O início de uma formidável epopéia

O INÍCIO DE UMA FORMIDÁVEL EPOPEIA
Miguel Carqueija



George Lucas revolucionou o cinema ao lançar a saga “Star wars” (Guerra nas estrelas) em 1977. O primeiro episódio, “Uma nova esperança” (na verdade lançado e conhecido simplesmente como “Guerra nas estrelas”) foi seguido por “O Império contra-ataca” em 1980 e “O retorno de Jedi” em 1983. Na verdade esta era a trilogia central, pois Lucas planejara nove filmes, e em seguida deveria vir a trilogia inicial — prequelas das produções já realizadas, e contando a origem dos grandiosos acontecimentos que abalaram aquela distante galáxia, há muito, muito tempo atrás...
Mas Lucas preferiu esperar, apesar da sofreguidão dos fãs, que pudesse desenvolver novos e aperfeiçoados efeitos especiais. Primeiro ele reeditou a trilogia já existente, alterando algumas cenas. Finalmente surgiu, em 1999, o verdadeiro episódio 1 — THE PHANTOM MENACE (A ameaça fantasma) — que passo a comentar.
Esta grande produção, que marcou o retorno de Lucas, produtor-executivo de toda a série, à direção, após 22 anos, é realmente emocionante e espetacular, apesar de ter sofrido críticas negativas. No meu entender é realmente um grande filme. Nele encontramos a origem de Anakin Skywalker, que, com aproximadamente oito anos na ocasião (e esplendidamente interpretado pelo menino-ator Jake Lloyd), vive no planeta livre Tatooine, onde não é aceito o dinheiro da República (é estranho que não se fale em câmbio), com sua mãe Shmi (Pemilla August), personagem estoica que está disposta a ceder o seu amado filho para que este salve a Galáxia, tornando-se um guerreiro jedi. Detalhe muito importante, e que passou algo despercebido, foi a afirmação que Shmi faz ao jedi Qui-Gon Jimm (Liam Neeson) de que “não houve pai” no caso de Anakin, ou seja, uma concepção virginal. O paralelo com Jesus Cristo é evidente, apesar de que há duas diferenças também evidentes: uma, é que Anakin não é um messias divino; outra, que ao longo da saga ele se perverterá, escorregando para o “lado negro da Força”, tornando-se o terrível Darth Vader.
Um ponto interessante é que, embora se diga que a trama começa em “The phantom menace”, a verdade é que se dá a entender uma situação já de muito complexa, o que faz supor imensos acontecimentos anteriores. A própria origem dos jedis, por exemplo, perdendo-se na noite dos tempos. A história já começa com dois jedis, Qui-Gon Jimm e Obi-Wan Kenobi (Evan Mc Gregor) metendo-se numa séria encrenca no planeta Naboo, onde a Rainha Amidala enfrenta a opressão da Federação Comercial secretamente ligada ao Lorde Lith Darth Sidrious — os siths são guerreiros opostos aos jedis, e posicionados no “lado negro da Força”.
“The phantom menace” beneficia-se com trucagens digitais extraordinárias, com criaturas de animação contracenando com personagens humanos: Jas Jas Binks, por exemplo, um bicho desengonçado e orelhudo, mais alto que um homem, e que eventualmente faz amizade com os jedis. Ou Watto, espécie de mosca gigante. Isto, é claro, sem falar nas naves e nos cenários. Lucas, com grande paciência, esperou que se desenvolvessem novos recursos na animação computadorizada para filmar esta sequência com possibilidades ainda não existentes ao tempo da trilogia original. A corrida no deserto (melhor momento de Anakin Skywalker como herói) é um festival de truques e além disso, uma citação da célebre corrida de bigas do clássico de Sam Zimbalist, “Ben-Hur”.
Outra grande sequência é a demorada luta travada pelos dois jedis — Obi-Wan e Qui-Gon — contra o guerreiro Sith, que parece um demônio jedi e até chifres tem: Darth Maul (Ruy Park, ótima atuação). De fato, o vilão utiliza uma espada de luz com duas pontas, algo até então não visto na série. A luta é terrível e alternada com os outros três combates que se desenrolam em várias partes, uma autêntica convergência de acontecimentos rumo ao desfecho.
Não é à toa que George Lucas é considerado um gênio do cinema.

Rio de Janeiro, 4 a 11 de março de 2014.