O vaso sinistro

O VASO SINISTRO
Miguel Carqueija


Resenha do telefilme “The Cheney vase” (“O vaso sinistro” na versão brasileira) de Alfred Hitchcock. Produção norte-americana de 1955, dentro da série de tv “Alfred Hitchcock Presents”. Direção: Robert Stevenson. Roteiro: Robert Blees.
Elenco:
Patricia Collinge.......................................Martha Cheney
Darren Mc Gavin......................................Lyle Endicott
Carolyn Jones...........................................Pamela Waring
George Mac Ready...................................Herbert Koether
Kathryn Card............................................Bella
Ruta Lee...................................................Ruby Boyenton
Alfred Hitchcock.......................................apresentador

Como são as coisas na vida. Hitchcock, cineasta inglês radicado nos Estados Unidos, pouco depois de chegar, precedido de promissora carreira de diretor em seu país de origem, comprou logo uma briga (e na justiça) com o célebre produtor David O. Selznick (que produziu o épico inesquecível “E o vento levou”) por conta de desavenças em filmes onde trabalharam juntos. Há quem diga que foi depois disso que os diretores ganharam mais liberdade no cinema norte-americano, e Roger Corman, numa entrevista filmada feita na década de 90, afirmou que, nos tempos áureos de Hollywood, a principal figura do filme era o produtor.
Ainda que tenha ficado uma espécie de símbolo da resistência dos diretores aos produtores, o fato é que Hitchcock acabou produzindo telefilmes onde outros dirigiam mas sem dúvida ele é que era o dono da filmagem. Ou seja, nos seriados de televisão Hitchcock assumiu o mesmo papel, supostamente de vilão, de David O. Selznick...
E eu sou plenamente a favor dos direitos dos produtores. Cinema é trabalho de equipe e o diretor é quem dirige a filmagem, o que não significa que, necessariamente, caiba a ele o peso maior no resultado final.
Quanto a este episódio. Cheney no caso é um nome de família. Lyle é um empregado de museu demitido por desídia, que se aproveita da ingenuidade de uma velha senhora em cadeira de rodas, Martha Cheney. Sabendo que ela possuía um antigo vaso que valeria mais de 40.000 dólares, Lyle oculta o fato de ter sido demitido e, dando uma desculpa por ter saído do museu, convence a Sra. Martha a admiti-lo como secretário particular. Aos poucos, enquanto não encontra o vaso, ele vai se assumindo o controle da casa, afastando a governanta habitual da dona da casa e por fim, aprisionando-a, com a conivência relutante da namorada. Como boa história de suspense “The Cheney vase” trabalha com um clichê do gênero, quando uma pessoa indefesa se vê à mercê de algum criminoso (às vezes, parentes aproveitadores) disposto a sugá-la. Mas como é também comum nessas histórias, o criminoso acaba vendo frustrada a sua intenção.
Hitchcock tinha um jeito pernóstico de expor seu pensamento, diverindo-se com o público mas, que nem Buster Keaton, não sorria. O telefilme em questão é habilidoso mas não extraordinário. Mas, vale a pena assistir. Hitchcock sempre tem os seus sustos...

Rio de Janeiro, 13 de março de 2017.