Sailor Moon Clássica 3: o perigo radiofônico

SAILOR MOON CLÁSSICA 3 O PERIGO RADIOFÔNICO
Miguel Carqueija


No terceiro episódio da primeira fase do seriado clássico “Sailor Moon” (ou seja a série dos anos 90, que junto com o mangá projetou a super-heroína japonesa no mundo) vemos ainda uma heroína incipiente, que mal sabe usar os seus poderes recém-adquiridos e nem conhece o motivo de ser ela uma guerreira escolhida. Sua grande ingenuidade a leva com frequência a distrair-se de sua missão; sua mentora, a gata falante Luna, perde muitas vezes a paciência. Mas Serena (Usagi Tsukino no original) é uma garota de 14 anos e cheia dos sonhos de adolescente. O ônus parece muito grande para ela. E quando suas colegas e a própria professora se interessam por um programa de rádio que pede o envio de cartas de amor e manda de volta broches como bônus para os textos lidos... até ela se interessa, embora não tenha nenhum namorado. Mas Serena não sabe escrever cartas de amor e por isso acaba não redigindo nenhuma. Resolve procurar o apresentador do programa para aprender a escrever tais cartas – afinal ela gosta do rapaz da loja de jogos eletrônicos, Motoki (Andrew na tradução que abusou de nomes norte-americanos, pois a dublagem brasileira baseou-se na dos EUA), e até do misterioso Tuxedo Mask.
Assim por acaso é que ela descobrirá que tudo aquilo é outra armadilha do Reino Escuro para absorver força vital das pessoas, que é dirigida então para tentar despertar o ente demoníaco que pretende dominar o mundo... pois o broche vai provocando coma nos usuários enquanto drena suas energias. E tudo isso é levado por Jedyte, e pela maligna (yuma no original, espécie de demônio) para servir a esse sinistro objetivo.



Resenha do episódio 3 – Salvem as garotas apaixonadas – do seriado de tv “Bishojo senshi Sailor Moon” ou “Pretty Guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon) – Toei, Japão, 1992. Produção executiva: Iriyma Azuna. Produção e direção: Junichi Sato. Roteiro: Yoshiyuki Tomita. História original de Naoko Takeushi.


“Não importa o quanto você fique alegre com o calor e a emoção da primavera. O que não se perdoa é brincar com os corações puros, frágeis e inocentes das garotas.”
(Sailor Moon)

Tendo em vista o aspecto infantil que revestiu a série inicial, e que não se reproduz (ao mesmo nível) no atual seriado “Sailor Moon Crystal”, surgem nesses episódios detalhes que, se racionalizados, não se sustentam. É fácil aceitar (chama-se a isso, quando lemos histórias de fantasia e ficção científica, “suspensão da incredulidade”) os poderes de Sailor Moon, a gata falante e os inimigos também poderosos. O que fica difícil é por exemplo, engolir o programa de rádio clandestino, que como meio de sugar energia das pessoas parece pouco prático e demorado, além de depender da hipnose dos funcionários da estação, que nada percebem sobre o uso indevido do horário.
Mas tais detalhes lógicos passam batidos nesses desenhos, já se sabe... o charme das histórias de Sailor Moon nos leva a fazer vista grossa.
O fato é que a história da guerreira da Lua adianta um pouco nesse episódio onde ela recebe da gata (que recorre a um pulo mágico para isso) um novo item que surge do nada, uma caneta de transformação. Com ela Serena se transforma numa mulher adulta usando até salto alto (o que de saída lhe acarreta um tombo) e assim disfarçada penetra na emissora e flagra Jedyte no ato de transmitir a irradiação sedutora. Serena interrompe tudo e toma o microfone, alertando os ouvintes do perigo de utilizar os broches. Como resultado a yuma abandona sua forma humana e se mostra como o demônio que ela é.
Nesse ponto, diante dos inimigos, Sailor Moon começa a delinear a característica que se tornará sua marca registrada: ela não se limita a lutar (e nessa altura já fez a transformação clássica em Sailor Moon) mas discursa, passa descompostura nos vilões. E sempre termina dizendo que os punirá “em nome da Lua”.
Mas a sua inexperiência torna tudo mais difícil. Assustada com o ataque da yuma, acaba fugindo para o terraço onde finalmente resolve contra-atacar. Ela atira a tiara lunar, mas a yuma se desvia. Serena não desiste e consegue redirecionar a tiara, pegando o monstro em cheio e acabando com ele. Mas quando tenta derrotar Jedyte a situação muda, pois o general do Negaverso (Reino Escuro) tem mais poder que os demônios de quinta categoria conhecidos como yumas. Só com a mão espalmada ele repele a tiara, que cai ao chão inofensivamente, e em seguida derruba Sailor Moon. A heroína estaria em maus lençóis se não caísse a rosa vermelha indicativa da presença do Tuxedo Mask ou Tuxedo Kamen, o Mascarado de Fraque — e ninguém ainda sabe ao certo qual é a dele.
Vendo-se entre dois fogos Jedyte foge covardemente, teleportando-se de volta ao Reino Escuro. O Tuxedo Mask, que sobrevoa o local com seu misterioso poder, não desce para falar com Sailor Moon: apenas comenta que “nos livramos dele, garotinha”.
Sailor Moon ainda vai evoluir como super-heroína: por enquanto ainda está como observei, muito incipiente. Mas uma bênção a protege. Afinal, ela é a guerreira escolhida...

Rio de Janeiro, 7 de março de 2017.