Sailor Moon Clássica 2: a heroína relutante

SAILOR MOON CLÁSSICA 2 A HEROÍNA RELUTANTE
Miguel Carqueija



O primeiro animê de Sailor Moon começou a ser feito logo após o lançamento do mangá de Naoko Takeushi, no princípio de 1992. Como mangá demora mais tempo a fazer que seriado de televisivo de animação, a Toei precisou “encher linguiça” por não saber ainda as soluções que a mangaká daria à trama. Daí a série animada dos anos 90 conter muitos episódios supérfluos, onde a trama quase não avança. Basta dizer que a segunda guerreira, Sailor Mercúrio, já aparece no segundo episódio do mangá; no animê só dá o ar de sua graça no capítulo 8. Enquanto isso Usagi Tsukino (Serena na versão ocidental) ainda não se acostumou a ser uma super-heroína e nem sabe até onde vai a sua missão nem quem são de fato os inimigos, pois a gata não lhe falou tudo.

Resenha do episódio 2 – A casa da adivinha é um ninho de monstros – do seriado de tv “Bishojo senshi Sailor Moon” ou “Pretty Guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon) – Toei, Japão, 1992. Produção executiva: Iriyma Azuna. Produção e direção: Junichi Sato. Roteiro: Yoshiyuki Tomita. História original de Naoko Takeushi.


“Pode dizer por que não me acordou mais cedo?”
(Serena para Luna, depois de voltar a se atrasar para o colégio)

Nos primeiros episódios de “Sailor Moon” a trama não se adensou com as revelações que virão sobre o passado e as verdadeiras motivações da trama. Prevalecem os episódios estudantis, repletos de bobagens que levaram algumas pessoas a julgar a série como boba e infantil, o que facilmente se desmente porque, sobre a aparência infantil (que é um aspecto do seriado) vão surgindo questões até metafísicas, graves escolhas éticas, e um enredo de fantasia elaborada, bem mais que a dos contos de fadas habituais.
No segundo episódio fica claro que Serena ainda pensa como uma colegial meio desmiolada, pois não percebeu ainda a gravidade da situação que se desenha no mundo, e onde ela terá de assumir um papel vital. Nem é sua culpa de todo, pois a gata falante, Luna, pouca coisa lhe revelou. A própria Luna não sabe de tudo, mas sabe mais do que revelou a Serena.
A Rainha Beryl, do Reino Escuro (na versão norte-americana essa entidade passou a ser o Negaverso (universo negativo) e este nome prevaleceu na dublagem mexicana e desta passou à brasileira) continua cobrando de seus servidores, as “yumas” (1) o encontro do cristal de prata — ainda não se revelou o que isso vem a ser. Enquanto tal não acontece Beryl exige a energia dos humanos para alimentar o demônio que chefia o Reino Escuro. Jedyte, um dos “shinettous” (generais do Negaverso, auxiliares humanos mas dotados de grande poder), encarregou-se dessa coleta de energia com armadilhas colocadas em regiões de Tóquio — por acaso (sic) sempre perto de onde Usagi Tsukino (Serena) mora e estuda.
Depois de dar entrevista a um jornal, certo quiromante passa a ser muito procurado em sua loja de Juganbai, pelos alunos do Juuban Jr., onde Serena estuda. Presa fácil de entusiasmos do momento, a própria Serena crê em bobagens como a leitura de mãos e procura o mago. Este teve o seu público diminuído pela abertura, do outro lado da rua, de uma casa semelhante, dirigida por uma nova adivinha.
Logo fica claro que a maga em questão é uma agente do Negaverso. Com cartas mágicas ela vai dominando a mente dos jovens que lá vão, inclusive o Umino, colega de Serena e que secretamente está apaixonado por ela (só a Naru sabe disso). As cartas vão parar dentro dos próprios corpos dos alunos. Serena, não tendo ido lá, não foi atingida, mas logo vários colegas, Umino à frente, passam a se comportar de forma anti-social, até quebrando vidros da escola, o que leva Luna a alertar Serena de que ela deve agir, deve se transformar em Sailor Moon. É muito engraçado constatar a relutância da menina:
“Eu vou ter que lutar de novo? Estou com medo!”
Luna começa a ficar impaciente e, ao longo da história, chegará até a duvidar que Sailor Moon esteja à altura da situação. Pois o fato é que, quando Serena vai se transformar, pela segunda vez... esqueceu as palavras:
“Eu esqueci... como é mesmo?”
Não resta dúvida que esse comportamento ingênuo não é típico no universo dos super-heróis. É só comparar com os da Marvel ou da DC. No fundo, foi essa candura da personagem que atraiu para ela milhões de fãs pelo mundo.
Mas afinal, quando finalmente ela se transforma e enfrenta a yuma, sai vencedora facilmente. A tiara que Sailor Moon usa na testa, quando arremessada, vira um aro luminoso cuja energia destrói as yumas, reduzindo-as a pó. E mais uma vez, os planos de Beryl são frustrados.
Nesse episódio aparecem pela primeira vez Motoki, o rapaz da loja de “games” (onde já existe o jogo da misteriosa Sailor Vênus), por quem Serena é secretamente enamorada, e Kenji, pai de Usagi mas que nem desconfia ser a filha uma super-heroína.

(1) - yumas são uma espécie de seres demoníacos do folclore japonês.

Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2017.