Glamourizando a Revolução Russa

GLAMOURIZANDO A REVOLUÇÃO RUSSA
Miguel Carqueija



Resenha do filme “Balalaika” (Estados Unidos, Metro Goldwyin Mayer, 1939). Produção: Lawrence Weinearten. Direção: Reinhold Schunzel. Roteiro: Leo Gordon, Charles Bennett e Jacques Deval. Música: George Posford e Bernard Grün. Inspirado ópera de Rimsky-Korsakoff e opereta de Eric Maschwitz em adaptação de Herbert Stothart. Preto-e-branco, 102 minutos.
ELENCO
Nelson Eddy...........................................Príncipe Karagin (codnome Peter Taranda)
Ilona Massey..........................................Lydia Marakov
Charlie Ruggles......................................Nicki
Frank Morgan........................................Danchenoff
Lionel Atwill...........................................Sr. Marakov, pai de Lydia
C. Aubrey Smith.....................................General Karagin, pai do Príncipe
Joyce Compton......................................Masha
Dalies Frantz..........................................Dimitri

Hollywood nos velhos tempos abusava de clichês e fórmulas cansativas! Uma delas era colocar em suas produções luxuosas um ator tido como galã e uma atriz tipo estrela, para formarem um par romântico em meio mesmo a situações forçadas, onde não faltarão farpas e mal-entendidos entre os dois mas que, pelos sinais da história, inevitavelmente terminarão juntos. Porém aqui, a maior dificuldade é engolir russos, cossacos mesmo, dialogando e cantando em inglês; esse problema é quase incontornável, já que o elenco todo teria de aprender russo e afinal a produção não é russa. É algo como ver os personagens da Judéia e Roma falando inglês em “Ben-Hur” ou na animação “Gunsliger Girl”, em ação passada na Itália com personagens italianos, fala-se japonês. Claro, pior foi nos velhos seriados de Flash Gordon, onde o herói espacial chega no planeta Mongo e lá todo mundo fala em inglês, sem que ninguém de lá tivesse contato prévio com a Terra.
Em todo o caso o filme, quiçá por razões políticas, não leva muito a sério a crise ocorrida na Rússia pela década de 1910, ou seja primeiro a guerra com a Alemanha, depois a revolução comunista, aliás nem se fala em comunismo. Karagin, um príncipe “playboy”, encanta-se pela cantora lírica Lydia, que se desperdiça num cabaré conhecido como Balalaika, e começa a cortejá-la, sem saber que ela, com o pai e o irmão Dimitri, pertencem a uma célula comunista que pretende derrubar o czarismo. Ambos mentem mutuamente: Karagin esconde sua condição principesca e se apresenta com nome falso, visando de início apenas uma aventura amorosa-sexual; Lydia oculta sua ligação política contrária justamente à situação á qual Karagin pertence. Quando as coisas afinal se tornam claras a guerra está declarada e Karagin é obrigado a partir para o front, anos depois o Czar é derrubado e morto, e por fim um numeroso grupo de fidalgos e correligionários do antigo regime se reúnem em Paris, num clube chamado justamente de Balalaika. É para lá que Lydia finalmente se dirige para o reencontro final com Karagin, e o que causa espécie é o hedonismo de toda aquela gente que vive um fausto no exílio, gozando a vida em bailes aparentemente sem lamentar muito a vida antiga na Rússia, que não voltará mais. Também fica sem explicação porque Lydia, dando as costas às suas convicções políticas, retirou-se da Rússia. Apenas pelo amor ao príncipe? Não fica muito claro.
Nunca apreciei a superficialidade comum em grandes produções hollywoodianas dos anos 30, 40, 50, que mesmo famosas, quando a gente vai examiná-las, revelam sua fatuidade, o que é muito comum nos musicais, mesmo nesse, servido pelas belas vozes de Nelson Eddy, barítono, e Ilona Massey, soprano. Mas o filme em si é muito maçante.
Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 2017.