A mulher chapliniana

A MULHER CHAPLINIANA
Miguel Carqueija


Resenha do filme “A mulher de Paris” (A woman of Paris, United Artists, Regent Film Company, Estados Unidos, 1923). Títulos alternativos: “Casamento ou luxo”, “Destino”, “A opinião pública”. Produção: Charles Chaplin e Jerome Epstein. Direção e argumento: Charles Chaplin (ele não escreveu o tradicinal roteiro). Música (acrescentada em 1976): Charles Chaplin. Fotografia: Roland Totheroh. Direção de arte: Arthur Stibolt. Montagem: Monta Bell.
Elenco:

Edna Purviance..........................................Marie St. Clair
Adolphe Menjou........................................Pierre Revel
Carl Miller.................................................. Jean Millet
Lydia Knott................................................. mãe de Jean
Charles K. French........................................ pai de Jean
Clarence Geldart......................................... padrasto de Marie
Betty Morrisey............................................ Fifi
Malvina Polo................................................ Paulette
Charles Chaplin............................................ um carregador (ponta)

Filme em preto-e-branco, mudo, 78 minutos.

Um dos trabalhos longos menos conhecidos de Chaplin, a razão fundamental é com certeza tratar-se de um drama e não comédia, de não aparecer o personagem Carlitos. Chaplin aparece de fato alguns segundos apenas, como um carregador de estação ferroviária, apenas isso. Co-produtor, diretor e argumentista, ele ousou bastante nessa obra, que na época, segundo consta, teve pouca bilheteria.
“A mulher de Paris” é uma obra de peso, realizada com muito esmero, mas que segue certas limitações correntes no cinema mudo, como simplicidade ou primarismo das soluções, sem muitas nuances. Isso acarreta idiossincrasias que podem ser questionadas, como:
- o radicalismo sem maior explicação do padrasto de Marie e do pai de Pierre;
- a falta de visão do personagem que, diante de uma situação extrema do sentimento, só vê duas alternativas: o homicídio e o suicídio;
- a pouca objetividade como a de Marie, que ao aceitar ir ao ateliê de Jean para ser por ele pintada, declara ao amante: “Não adianta explicar, você não entenderia.” Ué, por que não? Por que Pierre não podia entender que no seu passado anterior a Paris, no interior, Maria teve um namorado que, por problemas de família, ficou para trás?
Existem ainda características de dramalhão, apesar da forma majestosa como as cenas vão se sucedendo. Desejosa de casar com Jean, Marie é trancada pelo pai, mas consegue fugir. Encontra o rapaz, combinam mudar-se para Paris, e casar. Ao voltar ela descobre que já não pode entrar em casa, seu padrasto a expulsou. Jean tenta colocá-la temporariamente na casa de seus genitores, mas o pai é intolerante e renega o filho, numa cena exagerada. A radicalização desses personagens leva ao início da tragédia. Jean combina com Marie de se encontrarem na estação ferroviária, mas seu pai morre do coração repentinamente e ele se vê impossibilitado de ir ao seu encontro. Sem ter mais casa para retornar, a moça segue avante, para Paris, ao encontro de seu destino...
Quando mais tarde, anos passados, Jean se encontra em Paris tentando a vida como pintor, e morando com a mãe, reencontra casualmente Marie, mas ela agora mudou completamente de vida: tornou-se amante de um aristocrata, Pierre Revel, sujeito bem humorado, gozador da vida, e nada ciumento, que até ri quando se forma um triângulo amoroso. Porém, atitudes desastradas de Jean levalo-ão ao desastre, quando ele tinha a vitória amorosa nas mãos.
Personagens questionáveis em suas ações nem sempre lógicas, mas o filme é uma obra de arte, excelentemente fotografado, e apesar da protagonista principal ser Edna Purviance, e do importante papel de Carl Miller como Jean, e também de Lydia Knott como a Sra. Millet, o tipo mais interessante é mesmo Revel, vivido pelo célebre galã da indumentária, Adolphe Menjou.


Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 2017.