“CARPE DIEM QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO.”

“Colha o dia confiando o mínimo no futuro.”

A mais famosa frase do poema de Horácio tornou-se lema ou filosofia de vida para muitos e, às vezes penso que está mais para um pensamento coletivo, pelo menos para uma parte substancialmente significativa da sociedade – desde a antiguidade até os nossos dias. O conceito de "colha o dia" tem basicamente duas formas de ser interpretado, sendo uma a antítese da outra: A forma negativa, em minha concepção, é a das pessoas que usam a expressão Carpe Diem para justificar uma vida em função da busca constante pelo prazer a qualquer custo, egoísta e individual ou mesmo coletivamente. Em contrapartida, a forma positiva do lema está relacionada com não perder tempo com coisas inúteis, aproveitar o dia fazendo algo frutífero para si e/ou para os outros.

O que mais se vê, é que na interpretação da maioria das pessoas o Carpe Diem está mais para “viva la vida loca” ou como diz a letra de Cazuza “Vida louca vida / Vida breve”, o mundo em que vivemos hoje está impregnado por essa visão negativa de "Vida Louca", porque a vida é relativamente breve e efêmera. Quando encaramos o fato de que muitas gerações nos antecederam e muitas outras virão posteriormente, que igualmente a nossos predecessores que jazem esquecidos no passado, a lembrança de nossa breve passagem pela Terra também será esquecida em no máximo duas gerações, a menos que façamos algo grandioso que fique marcado na história, porém isso é muito trabalhoso e difícil – escrever o nome na história é mesmo para poucos – portanto, mesmo querendo ser “imortalizado” é mais fácil fazer o que dá prazer e, se nessa busca pela satisfação se adquirir uma fama momentânea ou alguns “aplausos” já valeu alguma coisa, pois o dia foi aproveitado.

As ideias pessimistas de que talvez não haja um amanhã, de que não podemos fazer nada para mudar o mundo em que vivemos, de que as coisas são assim e pronto, levam a maioria das pessoas a usar esta frase de Horácio como desculpa para serem imediatistas e assim “evitar o sofrimento com os problemas da vida e do mundo, desfrutar todos os prazeres mundanos, todos os dias, sem se importar com o amanhã porque ele pode não vir” não há um estado de estagnação, porém, há sim um sentimento conformista: não podemos mudar o mundo, mas podemos nos divertir! Então se não houver amanhã pelo menos eu aproveitei tudo o que eu pude hoje, e se houver o amanhã aproveitarei novamente.

Nesse processo de desfrutar a vida ao esgotamento nada é efetivamente construído, ao envelhecer um pouco mais esse indivíduo pode não ter um sentimento de arrependimento por deixar de se divertir e aproveitar a vida, mas com certeza acaba tendo um sentimento de “não construí nada que valha a pena, não deixarei nenhum legado para meus filhos e netos” – isso, obviamente, se um dia a pessoa que vive assim (na vida louca) realmente parar para refletir sobre sua própria história de vida.

Entretanto, para os defensores do bom uso do lema Carpe Diem ele requer uma reflexão cautelosa sobre o poema de Horácio, seguindo uma linha de raciocínio próxima a isso: ser feliz hoje, aproveitar o dia sem esperar que a felicidade simplesmente apareça no futuro, tente desfrutar o que a vida tem de bom hoje, pois talvez amanhã você se arrependa de não ter aproveitado as oportunidades que teve de ser feliz ou de fazer algo que trouxesse uma boa recompensa para o futuro, nessa linha de raciocínio o Carpe Diem estaria, portanto, associado ao ditado “você colhe aquilo que planta”, então a questão de confiar o mínimo no futuro quer dizer que deve-se evitar o comodismo e a estagnação de esperar por um futuro melhor, pois para que haja um futuro devemos construí-lo hoje, sem deixar de observar o passado tanto de nossas próprias vidas bem como o daqueles que vieram antes de nós, sempre se pode aproveitar os fatos passados para avaliar oportunidades e evitar equívocos, ou seja, aproveitar o dia com atitudes e ações produtivas com vistas a satisfação momentânea e a recompensa futura.

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Esse texto foi modificado para ser publicado, porém sua origem é fruto de uma atividade acadêmica respondendo a seguinte questão: "NO FILME SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS FOI EXPOSTO UM PONTO DE VISTA SOBRE O CONCEITO CARPE DIEM, QUAL SUA OPINIÃO SOBRE ESSE CONCEITO OU FILOSOFIA DE VIDA?

Rodrigo EL CID
Enviado por Rodrigo EL CID em 13/09/2017
Reeditado em 11/01/2019
Código do texto: T6113430
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