LiteraTour France - relato de viagem

Mês passado, fizemos, ao mesmo tempo, dois passeios maravilhosos: um por algumas das mais belas cidades da França, e outro por alguns dos mais curiosos lugares do nosso imaginário. Visitar Bordeaux, Tours, Saint-Malo, o Mont Saint-Michel, Rouen e Paris nos mostrou um pouco das inúmeras belezas de paisagens e de locais históricos franceses. E visitar as maisons, châteaus e tours dos escritores favoritos do profe (e nossos também!) nos mostrou concretizados, em pedra e tijolos, em bibliotecas e escrivaninhas, e em lindos jardins, a beleza dos recantos de inspiração dos nossos escritores favoritos, com encantamento que superou até mesmo a nossa potente imaginação.

Tratando da parte “real” do passeio, tivemos os bons esforços do guia Leonardo, e pudemos contar com o carinho e os cuidados primorosos da Ana Claudia, que já amamos desde os tempos da Grécia antiga! :-) Ficamos encantados com o charme de Bordeaux! A Place des Quinconces, o Monumento aos Girondines, a rambla beira-rio maravilhosa, Las Fontaines, a catedral, os prédios de pedra calcária, todos amarelinhos, uma feira-festival com banquinhas de restaurantes na rua, as praças, os amplos calçadões, mesinhas nas calçadas, cafeterias, padarias, restaurantes, sorveterias, tudo liiiindo! Parece que o bairro Moinhos de Vento tomou conta da cidade inteira! Na Cidade do Vinho, visitamos o museu high-tech Cité du Vin, onde interagimos com os aparelhos e aprendemos sobre os cheiros, as cores, a história do vinho, e vimos um magnífico filminho supratemporal inesquecível! Visitamos também uma aldeiazinha muito mimosa Saint Emillion, que parece parada no tempo, de tão lindinha, e tivemos explicações sobre vitivinicultura bordonesa em português!

Em Tours, vimos igrejas medievais, a basílica e a catedral, de arquitetura gótica! Vitrais lindos! Vimos também prédios enxaimel de 300 anos! Praças, cafés, o Rio Loire! Uau! Fizemos um passeio no alto das muralhas de Saint-Malo! A cidade de pedra à beira-mar é muito charmosa, famosa por seus crêpes e cordeiro salgado. Foi sede de exploradores (que descobriram as Ilhas Malo-vinas!) e de corsários (hoje representados por gaivotas piratas).

Que lugar liiiiindo o Mont Saint-Michel! Impressionante a sua imponência! Que charme! A abadia barroca fica lá no alto de caminhos estreitos, ruas e prédios feitos de pedra, com lojinhas, brasseries boulangeries. Uma linda vista e uma incrível e perigosa maré! uau! Passamos também por Honfleur, bem mimosa, com seu porto e sua marina Sena-Mar.

Fizemos uma bela visita a Rouen. Vimos os monumentos a Sainte Jeanne d’Arc, a heroína da França, o monumento a Napoleão, Le Gran Horloge, os magníficos vitrais da catedral de Notre-Dame, onde está o Coração de Leão! Visitamos também o Musée de Beaux-Arts, com seus Monet, e o Musée de Histoire Naturel (sim, eles têm uma capivara!). No fim da noite, ficamos absolutamente encantados com os shows de projeções de imagens na catedral, contando a história do Conquistador e da maravilhosa Jeanne. Uau! :-)

Depois, Paris! Que maravilha! Caminhamos muito, digo, “flanamos”. Vimos a Notre-Dame, o Palais de Justice, o Musée du Louvre, o Jardin des Tullieries, a Place de la Concorde, o Arc de Triumphe, almoçamos no Trocadero, conseguimos uma baita vista da Tour Eiffel! :-) Fizemos passeio de “bateau-mouche” pelo Sena, comemos crêpes e curtimos o pôr-do-sol.

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Agora sobre o passeio ao nosso imaginário… Visitamos a torre de Montaigne, o Château de Saché, o Château de Monte-Cristo, a Maison de Tante Leónie, o Musée Flaubert, o Musée Rabelais, a Maison Victor Hugo. Ao longo desse fantástico percurso, o profe Cláudio Moreno se propôs a convencer todos nós a nos tornarmos fãs dos escritores favoritos dele - e certamente conseguiu! Boa parte de nós já era, claro. Mas os discursos de “fanboy” dele creio que pegaram todo mundo! :-)

Diante da Torre do Montaigne, por exemplo… Eu ainda não tinha lido (shame, shame!). Agora já li um volume dos “Ensaios” (selecionados) e virei fã! Muito tri tudo sobre o Montaigne! A história da vida, o “ócio criativo”, a decisão de se retirar para a torre, a erudição, as referências, as frases, os raciocínios e reflexões, a simplicidade. Muito tri visitar o château e a fabulosa torre, com sua biblioteca, quarto, capela, tudo!

No ônibus, o profe foi comentando Balzac, a sua vida e trechos de “O Lírio do Vale”. Aí, bah, quando chegamos ao Château de Saché, o castelo onde Balzac se escapava dos credores e escrevia, uau! Admiramos o quarto do escritor, a escrivaninha dele, a gráfica, o gigantesco plano da obra da “Comedie Humaine”, as esculturazinhas do personagem Felix, da condessa Hanska, do incrível Vautrin! Uau! O museu mantém salas de exposição ótimas e salas-cenário que fazem a gente imaginar cenas dos livros ali! :-) Que lugarzinho “aprazível”! Depois, lá perto do fim do passeio, também visitamos a Casa de Balzac em Passy. Vimos ali a inseparável cafeteira do escritor, inúmeras provas tipográficas com suas intermináveis revisões, a famosa bengala, umas litografias dos personagens! Uau! Vautrin em três ou quatro versões! O bondoso pai Goriot! a mimosa Eugenia Grandet, e vários outros.. E até um imenso (imenso!) esquemão das relações entre os personagens e as obras. Tudo isso dá ideia do tamanho do projeto que Balzac ambicionou - e escreveu!

No Musée Rabelais, vimos quarto, sala, edições originais, bustos, “previsões”. Profe deu aulinha de “Gargantuá” e “Pantagruel”. Este eu já tinha lido e tinha achado ao mesmo tempo crítico e engraçado nas suas escatologias e obscenidades. Tive uma admiração maior pelo escritor quando soube que ele escrevia essas baixarias para os seus pacientes - pois ele era médico - se recuperarem mais rápido, ou pelo menos enfrentarem as enfermidades com mais bom humor. Isso me lembrou o bom trabalho que fazem atualmente os Médicos da Alegria, Doutores do Riso, e outros voluntários nos hospitais. De bagaceiro a comovente!

O profe contou umas histórias de índios do Chateaubriand. Mas a história do Peri e da Ceci - que ele também contou - era bem mais legal, envolvente e cativante. No passeio, vimos a casa onde o escritor nasceu, e não vimos o túmulo dele. Não soubemos muito dele. Mas se até as histórias do José de Alencar são melhores que as dele, então deixa. :-P

Visitamos o Musée Flaubert, na casa da família dele em Rouen. O profe contou a vida da “Madame Bovary” no belo jardim, diante da estátua da dona Emma, e leu um trecho de uma pré-edição da Educação Sentimental, no quarto do escritor. No ônibus, leu dois belos trechos (mas que não são da Emma falando): a paixão de Charles, o marido, e a carta de Rodolfo, o sacana. Depois, no Musée de Beaux Arts, vimos o quadro “La Mort de Emma Bovary”, impactante a ponto de nos lembrar a intensidade do sentimento expresso no texto.

Ainda no ônibus, o profe contou um trecho do “A la Recherche du Temps Perdu” da infância do Marcel (que eu acho que é de longe a melhor das sete partes): aquele sobre a espera pelo beijo de boa noite da mãe. Lindo! :-) Ao chegarmos na cidadezinha, nos espantamos ao saber que Illier virou Illier-Combray! Que poder teve o Proust e sua obra! Então visitamos o Musée Proust na Maison da Tante Leónie, que mantém o quarto e a cama do doentinho Marcel, e a escada, e a sala de jantar e tudo… Mas não nos ofereceram para degustar madeleines molhadas no chá!?! :-( O museu vai ter que correr em busca do tempo perdido.

O profe contou um pouco das histórias de sofrência de “Les Misérables” e também de “Notre-Dame de Paris” (que todo mundo conhece como “O Corcunda de Notre-Dame”). Visitamos então a Maison Victor Hugo em Paris, e lá vimos parte da extensão do sucesso do autor - váááárias obras de arte - pinturas, esculturas - que retratam cenas das obras e seus personagens, incluindo nossos preferidos Cosette, Gavroche, Quasímodo, Esmeralda.

Já no fim do passeio, o incrível Château de Monte Cristo! O casarão onde o Alexandre Dumas foi morar depois de fazer muuuuito sucesso com suas dezeeeeenas de livros! Um lindo jardim gramado, e a escrivaninha do autor de frente para a janela, proporcionando uma vista tão linda que talvez auxiliasse a busca de inspiração para as histórias. Retratos do autor e de seus familiares, áreas da casa, mobília da sala de jantar (do glutão), e um salão mourisco bancado por um sultão! E uma sala dedicada às obras com livros, trajes dos mosqueteiros do rei, mini-esculturas dos mosqueteiros, e até as “joias” da rainha! Uau! No pátio da propriedade, outro prédio muito especial chama a atenção: o Château d’If, com o nome da prisão em que Edmond Dantés passou anos, aqui era o local em que o escritor se libertava de qualquer incomodação e podia ficar dedicado exclusivamente à sua escrita. :-)

Como nós, que neste LiteraTour, nos libertamos da “vida real” e fizemos uma “imersão” nas fantásticas vidas e obras e locais de moradia e trabalho dos nossos escritores franceses favoritos. Amamos o passeio! Foi como os melhores livros: ao fecharmos a última página, ficamos com vontade de abrir uma nova! =)