ESTRESSE E SÍNDROME DO ESGOTAMENTO NO TRABALHO E O DOCUMENTÁRIO CARNE E OSSO E SOBRE

O texto “Estresse e síndrome do esgotamento no trabalho” destaca como resultado direto da globalização o aumento de duas consequências psicológicas: o estresse e a síndrome do esgotamento profissional (burnout). O assédio psicológico no trabalho (mobbing), que também aumentou em consequência da globalização não foi discutido neste capítulo.

O estresse é, segundo Buendía (1998 apud BERNAL, 2010, p. 145), "um problema de adaptação ao nosso meio, e o estresse do trabalho é um problema de adaptação ao nosso ambiente de trabalho, que nos produz angústia e sensação de insegurança". Os resultados do estresse podem ser tão graves, que chegam à depressão e, a às vezes, até a “morte súbita”, algo que ocorre especialmente entre os executivos japoneses. "O estresse é compreendido como um fenômeno complexo, que não é fácil de ser definido com exatidão, tendo múltiplas e diferentes definições" (COX; McKAY, 1981 apud BERNAL, 2010, p. 147). Diante disso, o estresse seria "um processo produzido por uma complexa e longa interação entre uma série de variáveis organizacionais, psicossociais e psicológicas" (FERNANDEZ; QUINTANA, 2004 apud BERNAL, 2010, p. 147).

O documentário “Carne e osso” trás, como exemplo, vários depoimentos de trabalhadores que estão depressivos. No entendimento de Walter, auditor fiscal do trabalho, esses depoimentos são negado. Diz ele: “para os médicos das empresas, não há depressão causadas pelo ambiente organizacional. Todo caso de depressão no frigorífico, se dá porque o(a) trabalhador(a) brigou com o marido, porque o marido traiu, porque a mulher traiu, porque morreu o pai ou a mãe, porque morreu o tio ou até porque morreu o vizinho, O que há é um processo de negação por parte da empresa. Para o médico da empresa a depressão não é culpa do trabalho, ela não existe”.

A síndrome do esgotamento profissional, conhecida também como burnout refere-se à sensação de esgotamento de um indivíduo pelo excesso de trabalho. Três fatores podem ser apontados com geradores da síndrome do esgotamento no trabalho: o aumento da relevância que os serviços sociais adquirem como agentes do bem estar individual e coletivo; os usuários exigem cada vez mais dos serviços sociais; os efeitos nocivos do estresse são conhecidos. Esses fatores vão constituir uma síndrome que, segundo Maslach (1982 apud BERNAL, 2010, p. 159), "se caracteriza principalmente por: esgotamento emocional; despersonalização; e falta de realização pessoal". Diante desses fatores, a síndrome do esgotamento no trabalho aparece como uma resposta cognitiva, emocional e de condutas ao estresse crônico do trabalho, moldando, um tipo especial de mecanismo de enfrentamento e de autoproteção frente ao estresse gerado pelas relações trabalhador-cliente ou trabalhador-organizações.

O documentário “Carne e osso” também trás, como exemplo, vários depoimentos de trabalhadores de frigoríficos que estão passando por processos de reabilitação. No discurso de Juliana, Terapeuta Ocupacional do INSS, ela diz que “não saberia nem citar números, mas a porcentagem é grande, cerca de 80% do público atendido na reabilitação na região é de frigorifico. São problemas de tendinite, epicondilite. São dores nos ombros, no cotovelo, no punho, no pescoço. Os trabalhadores estão sujeitos a muita exigência. Tem o problema de levantamento de transporte de cargas nas empresas. A posição assumida na linha de produção, muito tempo em pé ou muito tempo sentado. Têm as temperaturas frias. E por fim, neste nicho de trabalhadores, se encontra um grande quadro de sofrimento psíquico associado”.

Graça, médica e pesquisadora, ratifica a percepção de Juliana, ao relatar no documentário “Carne e osso”, a Síndrome do Sobrevivente. Para Graça, esta síndrome caracteriza os trabalhadores que se mantém no trabalho com medo de serem demitidos. Estes trabalhadores apresentando uma série de patologias que os levam, em muitos casos, à impossibilidade do retorno ao trabalho. Esta situação foi ilustrada pelo depoimento de uma mulher, não identificada no documentário, que trabalhou por onze anos sem se ausentar de suas funções laborativas e teve sua mão e braço esquerdo atrofiado.

Para Bernal (2010), as discussões em torno das duas consequências psicológicas supracitadas, indicam que um dos aspectos mais estudados pelos psicólogos sociais do trabalho são o estresse do trabalho e os problemas associados a ele. Isso se dá, fundamentalmente, devido à percepção de que tanto o estresse do trabalho quanto a síndrome do esgotamento profissional estejam aumentando, o que se constitui num agravamento da relação trabalhador-organizações, já que as consequências impactam diretamente na atitude interna de um individuo com o próprio trabalho.

O texto e o documentário contribuem para a ampliação dos desafios tanto do processo formativo do aluno do Curso de Psicologia quanto do estudo continuado do profissional de Psicologia que vai atuar na área do trabalho e dos processos organizacionais.

Referência

Carne e osso. Direção de Caio Cavechini; Carlos Juliano Barros. Globo News. 2011. Documentário (54min)

BERNAL, Anastasio O. Estresse e síndrome do esgotamento no trabalho. Capítulo 7. Psicologia do trabalho em um mundo globalizado: como enfrentar o assédio psicológico e o estresse no trabalho. Editora Artmed, 2010. p. 144-166.