Deusas

Deusas. O sagrado presente em nós, profanas.

     Quando meninas, encanta-nos descobrir as cores, os cheiros e sabores. Enternece-nos os detalhes. Sonhamos colorido com tudo o que, no nosso mundo interior, pode ser.

     Donzelas, já sabidas do mundo, despertamos para possibililades impensadas. Deslumbra-nos que exista tanta beleza no outro ser da humanidade e sonhamos estar em roda, viajar e tornarmo-nos alguém incrível.

     Mulheres, plenitude é seu nome. Nos percebemos aprazeiradas em sermos casa, abrigo e proteção. Empoderadas de nossa própria beleza e inteireza. Donas, então, de nosso destino, abarcando todos os tipos de amores e a eles entregando- nos, num orgasmo existencial. E isso, pela eternidade curta de  uns 40 anos.

     Anciās, com a vista enebriada de termos sido mágicas, porém limitadas, imensas, porém auto-conhecidas, iluminadas, e por isso mesmo, humildes, reconhecendo- nos parte da Roda da Vida: dando- lhe de vestir e, dela, sendo engolida. Com ela, fazendo as pazes. Já sabemos que vamos perder tantas vezes. Que venham as perdas inevitáveis. Rochas, lágrimas,  porém carvalhos, inabaláveus.

     Já sabemos que todos os ganhos compõem a nossa força matricial. Pois que permaneçam. Olhamos fundo em nossos olhos profundos e, unindo todas as mulheres que fomos e as irmās em gênero desse mundo,  imbuímo-nos de uma magnitude humana que só quem trilhou o caminho com nossas sandálias poderá compreeender. Sabemos, pelo toque na Vida, que somos essa pessoa incrível que a donzela ousou ser. Passamos a compactuar as auroras com poentes, sentimos mais os sons das alfaces nascendo e nos identifcamos com o porencial nutritivo do solo. Somos o que acolhemos e intuímos, em nosso ventre, o poder e a delícia de ser mulher. 

     Quem não sabe, perdeu. 

     Nós? Nos deliciamos.