A vida em Preto e Branco

  Quando ouço depoimentos de pessoas que com lágrimas nos olhos, na garganta..., com o coração apertado e com uma forte carga de saudade, descreverem de como era a alegria, a calma e a simplicidade em se viver sem luxo, com brincadeiras puras e brinquedos artesanais, choro também.
  A mãe, numa casinha docemente arrumadinha. Com cheiro de comida boa, de paz presente e amor na medida exata. Tudo num ambiente abençoado por Deus.
  O pai, com seu exemplo diário, cedinho sai para o trabalho, voltando no fim do dia.
Todos os dias tudo era divinamente igual, graças a Deus, também por isso.
  A gente miúda, a molecada, com uma lata, um pouquinho de areão, um pedaço de barbante e muita muita vontade de ser feliz, coloríamos em Preto e Branco mais um dia verdadeiro,... inteirinho e simples de Vida.
  ...Briguinhas? Picuinhas? Até existiam!
  Os bate-bocas, também faziam parte e presentes na rotina inocente entre os pequenos.
  Mas tudo silenciava quando se ouvia a palavra mágica:
  -Vou falar pra minha mãe e vocês vão ver só!
  Vivíamos praticamente, cansando de ser feliz, brincando sem contra indicações e com saídas repentinas até a base forrar a “pança” (lembram daquela casinha arrumadinha?) com quitutes caseiros que nunca faltavam nos potes da cozinha.
  Como por encanto a noite batia na porta do dia e um vento de “medo bom” assustava geral pela rua.
  Depois um silêncio ligeiro! Essa era deixa. O pai tava chegando, e a correria era tamanha que num piscar de olhos a estrada ficava vazia.
  Nesta hora não demorava muito, antes que ele abrisse a porta, todos de banho tomados, cabelos lambidos, com roupas rasgadinhas, mas limpas.
  De cadernos nas mãos e concentrados (mais ou menos) nos estudos, rabeávamos os olhinhos para a mamãe que num piscar somente, recebíamos o ‘sim’ que faltava para dizer que tudo tava bem e o pai tava calmo (ufa).
  Sem muitos recursos, mas com uma imensa dose de responsabilidades por parte deles, traduziam o que de fato esperavam de nós, filhos e do nosso jeito, tínhamos a certeza de que confiavam na gente também.


Eu que nem conhecia as palavras orgulho, futilidade, vaidade e depressão e até achava que não estavam escritas em nosso dicionário.
Achava não, tinha certeza!
Por acreditar e confiar tanto em Deus, tudo noutro dia se repetia e isso era bom demais!!!