TRADIÇÃO POPULAR: UMA CULTURA SEM PERFIL PRÉ DEFINIDO (Série Folclórica Memória) ROBERTA LESSA

            A humanidade mesmo evoluída técnica e cientificamente produz, independente de sua condição sócio cultural, diferenciados padrões étnicos manifestos em conformidade com as crenças originadas em antigas práticas que foram, com o passar do tempo, tornando-se míticas e muitas vezes desacreditadas por habitarem  o que academicamente se denomina senso comum, como a exemplo lendas como o unicórnio. O inverso também ocorre, onde à partir de determinado credo evoluírem padrões comportamentais que a posteriori são justificados e comprovados cientificamente e aceitos como fato real, podemos citar a medicina popular quando testadas as propriedades das herbáceas. Mesmo assim tais comportamentos populares ainda permanecem conectados ao que inicialmente acredita ser mito. Tais nuances estruturam, com o decorrer das eras, os conceitos e práticas sociais contemporâneos, que independente de critérios valorativos, mantém um curso de evolução própria e o reconhecimento do coletivo como uma manifestação popular de perfil folclórico que se estabelece na tradicionalidade de quem a pratica.
            Toda prática folclórica engloba linhas de conhecimentos próprios e singulares, particulares de uma região, localidade, coletivo e ou indivíduo. Esta prática evolui exponencialmente interpenetrando nas diferenciadas sociedades no transcorrer das eras, sobrevivendo através de transmissões orais e geracionais, ocasionando a continuidade dos seus múltiplos e diversos focos de conhecimento. Estas práticas, antes de se tornarem visíveis cultural e artisticamente são fatos aceitos popularmente e praticados desde os primórdios da humanidade.
            Em tal ocorrência se alicerça também o fator intuitivo emocional de um legado, gerando uma rede involuntária que dialogam-se e que vezes é imperceptível à quem pratica. O folclore encontra-se afetivamente conectado no meio em que ocorre, mesclando-se ao aprendizado formal sem muitas vezes ser diagnosticado por ele. A exemplo disso temos uma mãe que leva o filho ao médico especialista - cultura formal- e também ao curandeiro ou benzedor -cultura popular-, verificando-se assim uma existência conjunta de ambas as formas culturais manifestas, a popular e a acadêmica; tais práticas tecem na humanidade o diferencial que estrutura a preservação, adaptação, continuidade e manifestação das práticas  tradicionais de cura, como no exemplo.
                    Esse processo, a maioria das vezes involuntário e inerente no ser humanoo, é uma das  formas mais tangíveis de um produto de tradição se perpetuar; pois quando produzido intuitivamente detém nesse processo a resistência de sua originalidade, que fora transmitida por gerações anteriores, agregando através do tempo a permanência e sua continuidade; influenciando as diferenciadas práticas em múltiplas etnias, migrando até chegar ao indivíduo praticante de uma tradição na atualidade, e que por hora denomina-se Ser de Tradição. Com este enfoque percebe-se e comprova-se as inter relações entre as manifestações populares locais com as diversas nações onde padrões similares de tal cultura é também observada - à exemplo, eventos onde a circularidade é verificada, tais como cultos, danças, esculturas, entre outros - podendo assim serem consideradas derivações aculturadas e praticadas por inúmeros segmentos sociais, independente de sua localização no planeta.
            Ao se desenvolver temáticas voltadas ao folclore é crucial à humanidade perceber-se inserida mesmo que à nível contemplativo nesse intrincado sistema de correlações comportamentais que milenarmente  diluíram-se no mental coletivo, gerando linhas de comportamentos culturais correlatos à sua gênese e que urgem pela sua salvaguarda. Dentro desse enfoque estaremos publicando periodicamente breves textos desenvolvendo temas que versarão por essa dimensão onde o universo dos ritos, mitos, crenças reinam e assim tenderemos ao fomento do necessário reconhecimento de que a cultura de tradição folclórica e popular habita concomitantemente às demais áreas culturais existentes.
            Importante novamente salientar que toda forma de manifestação folclórica de tradição tem fundamento ancestral e pela sua originalidade chegam à contemporaneidade através da oralidade e por assim ser muitos dos saberes sofrem modificações em sua essência nesse processo e por diversos fatores que  contribuem ou não para sua continuidade, extinção e ou total descaracterização. Assim é prioritário e emergencial o desenvolvimento  de linhas de ações conjuntas que contribuam para sua continuidade; outro foco a ser considerado é a abertura para uma flexibilização da percepção ao acessar tais produções culturais, tendo nitidez que elas muitas vezes, são apenas fragmentos ou reflexos de saberes populares gerados há milênios, e que sobrevivem atualmente, como é o caso à exemplo, dos festejos em louvação à Terceira Pessoa  da Santíssima Trindade, que é uma festa de origem cristã com nítida influência pagã, que chega à atualidade como práticas religiosa e profana que convivem harmoniosamente e que se denomina Festa do Divino Espírito Santo. Este será o tema do próximo texto.
Folcloricamente;
 
Roberta Lessa - Folclorista
 Sec. Mun. Ação Cultural e Turismo de Piracicaba-SP
Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 19/06/2017
Reeditado em 21/06/2017
Código do texto: T6031493
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