Culpado

Olhos tortos, uma porção de olhos tortos e famintos sobre mim; famintos por qualquer equivoco da minha parte, algum deslize da minha natureza, qualquer pecado capital que por mais que outras pessoas, se não todas tem a capacidade de cometer, mas, a atenção está sobre mim.

Venho cometendo crimes, crimes que não cometi, eles se orientam pelas silhuetas das sombras, nem mesmo sabem se fui eu, mas, eles têm a mim, mesmo que eu não seja suficientemente vil, eles farão de mim vil, julgarão o simples fato de eu ter errado a conjugação verbal de qualquer palavra cotidiana, que vão me olhar como se eu estivesse dando pontapés na mãe de outro.

E mesmo que eu esteja sendo crucificado, com minha garganta presa a forca, que mesmo assim eu estarei sorrindo, meus ombros estarão livres, estarão leves; eu não carrego culpas nas minhas costas, noite após noite, eu repouso a minha cabeça no travesseiro e durmo a noite inteira, o sono dos justos, acordo pela manhã e prossigo com os meus crimes em potencial.

Vou dormir tranquilo, não importa, deixem-me em paz, amanhã podem me zurzir, agora, por favor, deixem-me dormir.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 23/03/2017
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T5949850
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