Culpado
Olhos tortos, uma porção de olhos tortos e famintos sobre mim; famintos por qualquer equivoco da minha parte, algum deslize da minha natureza, qualquer pecado capital que por mais que outras pessoas, se não todas tem a capacidade de cometer, mas, a atenção está sobre mim.
Venho cometendo crimes, crimes que não cometi, eles se orientam pelas silhuetas das sombras, nem mesmo sabem se fui eu, mas, eles têm a mim, mesmo que eu não seja suficientemente vil, eles farão de mim vil, julgarão o simples fato de eu ter errado a conjugação verbal de qualquer palavra cotidiana, que vão me olhar como se eu estivesse dando pontapés na mãe de outro.
E mesmo que eu esteja sendo crucificado, com minha garganta presa a forca, que mesmo assim eu estarei sorrindo, meus ombros estarão livres, estarão leves; eu não carrego culpas nas minhas costas, noite após noite, eu repouso a minha cabeça no travesseiro e durmo a noite inteira, o sono dos justos, acordo pela manhã e prossigo com os meus crimes em potencial.
Vou dormir tranquilo, não importa, deixem-me em paz, amanhã podem me zurzir, agora, por favor, deixem-me dormir.