Tentando definir o amor

E o amor é isto, porém aquilo.

Amor é um estado superior, que nem todos terão a capacidade de alcançar. Amor da vida, amor para a vida. Amor desde a vida até à morte, após a morte, por toda a eternidade, ou talvez algo momentâneo.

Será o momentâneo também amor? Será isso que apregoas amor, ou mera ilusão de um sentimento que nunca chegaste a sentir? Como se sabe que é amor? O que é amor? Quando começa e acaba o amor?

Amei-te desde o dia em que te conheci, ou terei vivido sem te amar de facto?

Terá o assassino algum dia amado, sido amado, ter-se-à sentido amado?

Podemos amar em silêncio, quietos, envoltos nos nossos próprios pensamentos sem que algum dia alguém sonhe se quer que aquele brilho nos nossos olhos era amor?

O amor fala por si, ou será necessário falar em seu lugar?

Muitos amam uma vida inteira sem se darem conta, sem dar voz ou sentido a esse sentimento, sem que esse amor faça sorrir alguém.

Por vezes quem ama vive com uma pedra presa na garganta, nos pés, nas mãos e assim vai vivendo presa a um sentimento que não faz sentido, que não causa alegrias, e que aos poucos lhe vai roendo as entranhas.

Poderá o amor matar? Porque se matam os amantes? porque ocorrem crimes passionais? Haverá um pouco de amor em cada crime, um amor reprimido que levou à sede de sangue?

Amará quem faz a guerra?

Amam-se os Homens enquanto se usam, ou quem usa nunca chega a amar?

Haverá respeito no amor? E amor no respeito?

Amar é ter medo? Ou o amor aniquila o medo? Quem ama tem medo do ser amado, ou somente respeito?

O amor converte todos seres num só, excluindo a existência dos demais?

O amor leva a adoração/devoção/veneração?

Venerar/adorar/ter devoção por alguém é um tanto doentio!!! Nenhum Homem é um Deus de tal modo perfeito que se deva adorar em vez de aceitar. Não creio que homens vejam todas as mulheres numa só, porém que num aglomerado de mulheres uma se evidencie para ele, sendo que o mesmo sucede com as mulheres. O resto do mundo não pode nem deve deixar de existir, somente porque se ama, o resto do mundo existe e deve ser o suficiente para concluir que nenhum ser é perfeito, nem melhor que outro, porém tudo deriva de uma forma de olhar, uma consciencialização do outro. E no entanto vivemos numa sociedade onde o amor e o respeito são uma imagem meio cinzenta, quase inexistente. O amor dura enquanto tiver um propósito, do mesmo jeito que o respeito vive de contra- partidas. E por vezes o respeito não é se não o medo camuflado.

O amor existirá de facto? Ou ficou preso por entre as folhas dessas histórias contadas mil vezes, nessas histórias onde o amor vence qualquer obstáculo e quem ama tem sempre um final feliz?

Terá valor o amor, ou serve só para se dar ao que tem valor?

Há amor sem valor? Haverá valor sem amor?

Amam-se os Homens,ama-se Deus, amam-se as coisas, amam-se as paisagens, ama-se o infinito.

E o som das balas, dos canhões, dos gritos, dos choros e das lamentações, abafam o som do bater do coração. O coração... O amor... perde-se o amor por entre pedras, por entre punhos serrados, por entre mentiras e falsidades.

E o amor que era tudo ficou convertido em cinza.