Um amor discreto

Eles amaram-se discretamente, sem que o outro desse conta disso, sentiram aquele aperto de cada vez que estavam perto um do outro, porém nenhum teve coragem para dar o primeiro passo. Ela julgava que seria obrigação dele, afinal naquele tempo o cavalheirismo era tudo que se esperava de um homem, mulher alguma poderia ter a indecência de dar o primeiro passo, por sua vez, ele receoso por natureza, tímido, de uma timidez que chegava a fazer doer o coração e secar a boca, ele teve receio que ela o julgasse demasiado atrevido, quando ele próprio desconhecia o atrevimento.

Viveram um grande amor, um amor tão puro que durou décadas embalado pelo silêncio da boca e o mais forte bater de coração.

Ele acordava e imaginava-a deitada a seu lado, com o corpo frágil sobre seus braços, uns braços não muito robustos mas que teriam a força eterna de a cuidar e proteger.

Ela adormecia embalada pelos seus sonhos de mocinha que ia crescendo mas mantendo intacta aquela inocência de quem nunca deu o primeiro beijo. Ela sonhava viajar pelo mundo na sua companhia, dançar e cantar por uma eternidade que esperava poder viver a seu lado.

Eram muito jovens quando se viram pela primeira vez e não mais se esqueceram. O tempo passou e os seus corpos a pouco e pouco se modificavam, mas o amor que sentiam conservava aquela pureza de quem quer cuidar para sempre.

Marcavam encontros sem se falarem, conheciam cada passo dado pelo outro e faziam disso uma vida a dois imaginária. Eles nunca se falaram, nunca se tocaram e no entanto amavam-se com toda a plenitude.

Esperavam sempre pelo dia seguinte para entrelaçarem o seu amor, porém um dia ele se viu só naquele banco de jardim que haviam partilhado por uma longa vida.

Ela tinha partido, ele tinha sido o seu último pensamento. Ele não o sabia, porém jurou ama-la para sempre.

Liliana Soares
Enviado por Liliana Soares em 07/12/2016
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