A menina que acreditava em contos de fadas

"Casaram e viveram felizes para sempre", lembro-me bem de ver esse final nas histórias que me contavam em criança. Nessa altura acreditava que o mundo fosse um lugar perfeito, onde o bem sempre acabava por vencer todo o mal. Julgava que cresceria e encontraria na minha própria história esse final feliz, porém quando crescemos constatamos que vivemos na ilusão durante todos esses anos de histórias de princesas e fadas. Porque nos enganam e nos deixam na ilusão de que todos viveremos uma grande história de amor, a qual será eterna e nos completará para todo o sempre?

Hoje a menina que um dia acreditou nesse final feliz tornou-se mulher, descobriu o lado negro da vida e o quão cruéis poderiam ser os humanos. Descobriu que existem crimes que anulam todo e qualquer amor, histórias que não passam disso, meras histórias para adormecer.

Acreditava ter encontrado o príncipe e no final viu-se sozinha no mundo com um filho no ventre, chorou por dias, gritou por horas enquanto não lhe arrancavam a custo esse ser de dentro de si, para crescer num mundo cheio de malícia. Ela lamentou ter acreditado na pureza dos seres, na imortalidade dos amores, na grandeza do bem.

Viu-se assim, sozinha com um filho nos braços ainda muito menina, fez-se forte e seguiu por esses dias tantas vezes cinzentos, tantas vezes chorosos e repletos de lamentos.

Ela jurou amar aquele ser por toda a sua vida e jamais o abandonar, ela sabia bem quanto doía o abandono e a falta de amor.

Ela viveu um dia de cada vez, no meio daquela pobreza disfarçada de normalidade, viu o filho crescer sem qualquer ligação ao progenitor, guardava dentro de si tanta mágoa, tanta dor, tanto desespero, mas ainda assim sorria e dizia "vai ficar tudo bem" para depois adormecer com aquele ser indefeso nos braços.

Ela era mãe solteira, mas nem por isso menos mãe.

Enquanto isso, o outro ser que um dia lhe havia jurado amor eterno andava pelo mundo livre de qualquer preocupação, de qualquer responsabilidade, era livre.

Liliana Soares
Enviado por Liliana Soares em 07/12/2016
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