O colapso da educação

A educação está por um fio se já não sucumbiu. O modelo de ensino ultrapassado, a desvalorização dos saberes individuais e o objetivo de formar, apenas, grandes profissionais são fatores que acarretam o declínio das instituições escolares.

Nota-se a existência de um cenário assustador, quando se discute o modelo educacional no Brasil. A evasão tem sido um problema comumente a várias escolas de todo o país e, segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas entre jovens de 15 a 17 anos, 40% destes afirmaram que deixaram as instituições pela total ausência de interesse. Com base nesse dado, é feito um questionamento: qual seria a principal razão para o abandono?

A resposta pode ser encontrada, além das demais causas, na falta de atratividade das escolas. O modelo atual é o mesmo do século XIX, no qual os discentes são submetidos a uma hierarquização, quanto à relação professor-aluno e a uma realidade semelhante ao sistema carcerário. O uso obrigatório de uniformes, as estruturas das escolas, os horários fixos para cada disciplina a ser desempenhada e inspetores de vigia. Ademais, o não-usufruto dos recursos tecnológicos, comuns a tal geração, e, considerando, também, a sua indisponibilidade por parte do Estado, a permanência do método "docentes discursando sobre uma única matéria, discentes anotando e decorando o máximo das informações" ocasionam o desinteresse e acabam tornando as aulas monótonas, cansativas e improdutivas.

O absurdo dos professores abusarem de sua autoridade e dos alunos assumirem um comportamento submisso aos que lecionam é preocupante. Grande parte dos docentes acredita que, o que lhes confere competência e dignidade é reprovar número x de alunos, e não oferecer meios para melhorarem. O relevante é auxiliar o crescimento, a evolução peculiar destes alunos, oferecendo quantas chances forem necessárias. É imprescindível que não haja confusão com os termos "facilidade" e "real educação". O distanciamento entre ambos lados não beneficia a aprendizagem, pelo contrário, cria-se uma barreira, um impedimento à comunição. A participação simultânea dos docentes e discentes irá refletir na melhor qualidade das aulas.

Além disso, observa-se que todos os alunos chegam às salas de aula, dotados de algum conhecimento, ponto ignorado pelo sistema educacional. Estes mesmos alunos trazem consigo diversificadas concepções, sejam mundanas, técnicas ou lógicas. O fato de descartarem o mencionado e valorizarem somente uma única ramificação do conhecimento acarreta a exclusão e sentimento de não-pertencimento. É importante que se transforme todo o conjunto em um tratamento científico, realizando uma transposição didática.

Retratando-se de outro ponto, é de extrema relevância que o espaço escolar seja um local recreativo e livre, no sentido de oferecer liberdade aos estudantes, como uma forma de fazê-los criar suas próprias responsabilidades no seu tempo. Não será com "controladores comportamentais" que irão adquirir tais compromissos. Debates, palestras, exposição de atividades coletivas e documentários são fatores interligados ao maior conhecimento e ao despertar do interesse dos adolescentes.

Vale ressaltar que há um equívoco, ao se propagar a ideia de que o professor está em sala de aula, a fim de se transferir todo o seu conhecimento ao aluno. Como Paulo Freire menciona em seu livro "Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa", o docente tem como papel primordial criar possibilidades da produção ou da construção do conhecimento. Ou seja, é necessário que essa prática seja alentadora, que ofereça uma base, garantindo o surgimento do senso crítico individual. Mas, essa falha é também decorrente do sistema capitalista, que faz com que as instituições escolares visem à formação de excelentes profissionais flexíveis, unicamente, para o mercado de trabalho e, não, de cidadãos.

Obrigar os alunos a permanecerem sentados às suas carteiras, decorando, literalmente, cada vocábulo dito pelo professor, só provocará a evasão dos mesmos. Recorre-se à famosa "decoreba" por necessidade de se obter tal resultado em tal avaliação, assegurando sua aprovação no ano letivo. O fato dos alunos "colarem" é o medo que têm de não conseguirem o resultado determinado por essas instituições inviáveis. É isso o que chamam de conhecimento? O que as escolas têm a oferecer é esse modelo nada atrativo? Se a educação continuar trilhando este mesmo caminho, o seu fim será decretado.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 27/10/2016
Reeditado em 21/05/2019
Código do texto: T5804424
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