Elas três me fizeram escrever

Hoje senti o que muitos dos meus alunos sentem quando eu peço para prepararem um texto. Como começar? O assunto é agradável e rico. Isso parece muito bom, mas para alguém das palavras isso é o mesmo que estar diante dum bufê cheio de comidas tentadoras. Você não pode comer de tudo e tem de selecionar o que vai levar a sua mesa tão agradável e compartilhar com seus amigos. Eles também estão querendo decidir entre as massas e o risoto. Salada crua ou cozida? Carne branca ou vermelha? Assada ou frita? Os vegetarianos vão comer cogumelos grelhados. Os veganos se sentirão a vontade?

O leque de opções é grande. Falar de arte, cultura, consciência é muito agradável. Para dizer a verdade: tentador. Sinto-me meio menino provocador. Língua ferina e ácida como as das cobras assustadoras a rondar o meu quintal da infância. Por vezes gavião num voo rasante. Em momentos de crise pensa-se em aproveitar a ocasião e destilar o veneno. Não cabe à situação! Estamos entre amigos. Amigos das artes e arteiros. Amigos da cultura cultivando o bom convívio. Temos consciência disso, não é?

Então, moleque, sossegue! Contenha-se e escreva logo! Disciplina é fundamental à arte, esse ser ao mesmo tempo acessível e intangível, comum e exótico, simples, polêmico, tranquilizador e inquietante. Se fosse gente seria alguém livre e versátil, capaz de estar em qualquer lugar. Se fosse um animal certamente seria um cameleão capaz de voar e nadar. Mas ela não tem corpo e nem voz própria. Manifesta-se em nós e para nós. É ela que está agora me impulsionando a escrever. É filha da cultura, essa gigantesca senhora, que se alimenta da criação humana.

Vida longa e rica é o nosso desejo. Convidamos a todos vocês a serem imortais. Para tanto é preciso arte, valorização da cultura e consciência de quem somos e do nosso papel em sociedade. Pensemos nisso e vamos aproveitar a festa! As cores, luzes, formas e sons estão por aí. Desfrutemos!

Oswaldo Eurico Rodrigues

São Gonçalo, 13 de novembro de 2017

Texto para a abertura do Projeto de Leitura do Colégio Estadual Ismael Branco, em São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro