SAUDADE BESTA

Faz tempo desde a última vez em que visitei minhas antigas lembranças. Estavam encobertas pelo caminhar do tempo que me força a ser prática para sobreviver. Entretanto, às vezes, eu ainda retrocedo àqueles tempos e revejo com complacência, com infinita paciência, unindo o maior número de momentos que eu consigo recordar, como se eu fosse a única pessoa capaz de escrever um livro sem final.

Outras vezes também, as sombras me arrastam de um jeito diverso e as cores despertam em mim a importância inédita de determinadas passagens que ficaram por serem contadas.

Subo até esse lugar onde repousam minhas lembranças e encosto a cabeça num colo imaginário e descanso as minhas mãos no macio regaço. Depois, imbuída de paz, deixo as lembranças de lado e mando a dor voar para bem longe, envolvo a saudade no brilho de uma rútila estrela e adormeço feliz sobre a minha cama e penso antes de cerrar os olhos para o sono que vem chegando de mansinho: “que saudade besta esta...”

regynacarvalho
Enviado por regynacarvalho em 14/09/2017
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