À luz da simplicidade

Uma vez ouvir falar da grandeza que existia em algum lugar em meio ao que não se pode ver, uma grandeza espetacular que nem todos poderiam conhecer. Então parti em busca da glória, da luz que não se apaga e da paz sem fim. Busquei-a onde cintilava, do que reluzia me vesti, no encalço do que havia de maior e mais elevado vivi. Nos espaços onde a multidão se ajuntava para ver e ouvir, mil escadas subi. Até que um dia a luz do sol refletiu em minha armadura dourada, queimou meus olhos e a luz que eu possuía me foi tirada, outra vez a multidão gritava, enquanto eu bradava e golpeado todo o mundo retinia, então, eu não mais ouvia. Desci as escadas, minhas expectativas foram frustradas, palavras e cores não mais serviam, tudo se transformara em nada, a alma desarmada eu sentia. Sentia a pele exposta sendo aquecida, uma pele tão esquecida, fosca, ainda viva, mas renegada.

— O que há abaixo das imagens e sons? Minha boca muda perguntava.

— Nada! — Alguém respondia. — Nada!

— O despropósito é o que me cobre agora. — Disse. — Vã foi toda a minha jornada.

— O que procuravas?

— Aquilo que está para além da luz revelada, o que é mais elevado que qualquer altura alcançada.

— Procuravas o novo na mesma estrada? E o inimaginável em sua forma imaginada? O que te resta?

— A ausência, a falta, o nada!

— E a vida?

— Esta também me resta, mas não me sustenta, me prende.

— Ao nada?

— Sim, a escuridão que os meus olhos contemplam.

— Então vês. Isso parece alguma coisa. A quem ouves? Ouves?

— Não sei.

— Ouves?

— Talvez...

— Caberias tu no nada? No espaço de ninguém? Fostes engolido por coisa alguma?

— Estou perdido e...

— Perdido? E bem sabes onde?

— Não.

— Perdido estás porque buscastes nova luz nos mesmos brilhos e paz em meio aos gritos, o que está para além no mesmo nível.

— Qual era a outra alternativa?

— A alternativa é se fazer disponível a encontrar o que não se detém em um lugar, nem em um plano pode se encaixar...

— Como?

— Em meio ao esquecido, nos terrenos não percebidos, estão os verdadeiros tesouros... O além não é o vazio, o além é o inesperado, a surpresa, o novo estágio simplesmente guardado a beira do caminho. O fundo do poço nada tem a oferecer... Aproveitas que nada mais vês e faça maior a tua jornada, apronta-te e encontres a luz que não pode ser ofuscada...

— Nada vejo...

— Mas tudo ainda é. Quando conseguires viver além do visível, verás além e ouvirás também.

— Devo fugir dos brilhos das joias e das vozes que ouvia?

— Pouco importa! Se te encantas com pedras preciosas ou se ouves a música dos dias... Importa que permitas ouvir da tua alma o canto e o som do silêncio, que assistas tua face no escuro da noite e contemple o brilho do que jamais brilhou...

— Mas dissestes que busquei paz em meio ao gritos...

— Sim. Bem sabes o que procuravas, mas aquilo que excede ainda não conhecias... Eu disse que é em meio ao caminho que encontrarás, mas não precisas fazer um novo caminho para que experimentes de uma boa nova.

— Retornarei ao que era antes?

— Jamais!

— Mas o que há de bom no desperdício dos meus últimos dias?

— Sabes onde o anseio da tua alma não pode ser satisfeito... Conhecestes o vazio por trás das promessas mais propagadas e enaltecidas, experimentastes o peso da fria armadura, vistes que ela mesma o traiu.

— Estou cego e surdo...

— Assim pensas.

— Penso?

— Sim. Está isolado, no escuro, mas a escuridão não tem nada de melhor para oferecer. A não ser uma falsa ideia de reparo e preservação, o descanso que não elimina o cansaço.

— Mas isso que agora ouço é bom!

— Não é porque desço ao vale para te resgatar, que ele se torna uma habitação para ti.

— Como saberei que estou indo no caminho certo?

— Vistes que não está nos brilhos. Eles ofuscam e entretêm, mas a verdadeira luz é amor e verdade, quanto mais mergulhares nestas possibilidades, maior luz provarás.

— Hum... O amor é mesmo lindo em poesia...

— Será mais ainda em teu convívio! Acredite. A verdade requer aceitação do que não se pode mudar agora. A muita insatisfação não é o melhor acúmulo, apenas tirará a paz de quem tanto a deseja e precisa dela no curso da vida, no exercício de tudo que o amor abrange.

— Talvez eu consiga.

— Conseguirá. A cura para a morte é a vida. A vida acontece enquanto se caminha. A luz não espera a tua chegada para um encontro à frente, ela vai contigo onde quer que andes, basta escolher vê-la.

Deixei que aquela convicção em expansão me tomasse por inteiro, então dei o primeiro passo e vi a escuridão começar a dissolver como uma névoa, continuei a caminhar olhando com atenção o que podia ver, como se fosse a primeira vez.