O lavador de camisas
O meu nome não importa, tão pouco importa minha história de vida.
Conto para vocês apenas minha profissão.
Trabalho lavando roupas de quem já teve sua sina É com a morte que ganho a vida.
Minha freguesia é grande tem sempre um infeliz perdendo a vida Por aqui sempre um homem morre antes dos trinta
Cada camisa é uma história pra contar Cada mancha de sangue é um pouco de vida Cada morte é sempre mais uma camisa.
Existem manchas que não são fáceis de tirar São elas da injustiça, pessoas que não fizeram nada Mas que mesmo assim perderam a vida.
E perder a vida combina com bala perdida que nesse mundo violento é o sucesso do momento.
E falando em mundo. Nesse mundo existem pessoas que nem camisa tem Morrem como um "Zé Ninguém" e seus corpos nunca são Encontrados.
São bêbados, mendigos, prostitutas e vadios. Que vagam pelas ruas frias da cidade e que não tem nem
Onde caírem mortos.
O LAVADOR MOSTRA ALGUMAS CAMISAS.
Essa camisa pertenceu a um homem que morreu em briga por terras Morreu por 7 hectares mas apenas 7 palmos lhe serviu.
E essa pertenceu a uma criança que morreu de fome na Vida brava do sertão.
Essa pertenceu a um professor Que morreu lutando por mais educação.
O LAVADOR CHEGA ATÉ UMA BR.
E nessa estrada é que faço muitos lucros por dia Aqui acontece acidentes todas as horas, seja de noite ou De dia.
Muitos homens com pressa de chegar Acabam perdendo a vida, e no outro dia Lá estou eu, lavando sua camisa.
Sigo por essa estrada a procura de camisas É com a morte que ganho a vida.
E de camisa em camisa as vezes fico me perguntando Quando lavarei meu último pano? Quem será que lavará Minha camisa?...
(Maicom Douglas)