Encontra-te a ti mesmo

Nós somos capazes de nos encontrar. E já não é mais com outro olhar envergonhado e apaixonado no meio da rua, e sim com aquilo que somos. Nos encontramos e percebemos que o coração não deixou de bater nos tropeços da vida.

Nos encontramos a nós mesmos, e esta frase soa como um dos pleonasmos mais bonitos. Nos encontramos no segundo minuto daquela música que toca no rádio e que, por ventura, nos esquecemos de trocar. Ainda bem!

Nos encontramos naquele domingo chuvoso que implora por calmaria. Nos encontramos na cidade iluminada, onde podemos rir alto e gritar para a lua o quanto o êxtase e a boa companhia podem nos salvar. Nos encontramos no bolinho de chuva que a nossa avó faz enquanto a saudade da infância invade o peito.

Nos encontramos na adversidade de uma segunda-feira quando vemos um casal aos beijos, contando segredos e juras de amor. Nos encontramos naquele trava-língua que nos lembra aquele amigo distante que hoje está vivendo aquilo tanto sonhou. Nos encontramos na chuva de verão, enquanto a brisa nos traz refresco e harmonia.

Nos encontramos naquele poema que parece nos desvendar. Nos encontramos naquela estrofe que nos faz alcançar as nuvens no final da tarde. Nos encontramos naquela conversa filosófica de bar que já faz a vida inteira ter valido a pena.

Nos encontramos quando, finalmente, vestimos aquela roupa que sempre tivemos receio de usar. Nos encontramos no ato de olhar para o espelho e poder sorrir porque está tudo bem. Nos encontramos no vento que canta nos nossos ouvidos como pássaros libertos: “Não há nada mais lindo do que poder se encontrar”.

E isto basta.

Mariana Franco
Enviado por Mariana Franco em 16/07/2017
Reeditado em 16/07/2017
Código do texto: T6055653
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