O papel amassado

Vejo-te escrevendo

Será que escreve para mim?

Os movimentos pausados

Pensamentos suaves

Simulam um poema

Será para mim?

Gesto reflexivo

Mão esquerda sobre a boca

Olhar distante

Será que me viu entrar?

O fluxo aumenta

A mão corre no papel

Faz um movimento de traço longo

Parece que faz um desenho

Será um coração?

Já está no meio da folha

De fato

É um poema

Provavelmente centralizado

Com versos curtos

Dobrou a folha

Rasgou uma parte

Fez um quadrado

Delineando as margens

Em uma forma perfeita

Voltou a escrever

Levantou-se

Apertou o pedaço de papel

com a mesma mão que o escreveu

Fez do quadrado

Um círculo

Que rodopiou nas bordas da lixeira

Será que era para mim?

Espero o silêncio da sala

Levanto-me

Pego o papel amassado

Sobre a mesa o estendo

E leio:

"Saudades de quando conversámos...

Mesmo longe

Sentia-te tão perto

Conversas

Sobre o que poderíamos ser

Desejos

que não passaram de vocábulos

Poemas

trocados como indiretas

Verdades

Ditas e não ditas

Sonhos

Reais ao cair da noite

Olhares

Trocados que resumem todo o poema

lembra daquele abraço incompleto?

Não gosto de deixar nada pela metade."

No canto superior direito,

Um coração flechado.

O traço reto, era a flecha.

No canto inferior esquerdo:

"Saudades do que falta."

Um poema...

Talvez fosse para mim.

A única certeza é que era um poema, tinha um coração apaixonado e não estava assinado, a não ser, pela "saudade do que falta."

Thamiris Sales
Enviado por Thamiris Sales em 23/05/2017
Reeditado em 23/05/2017
Código do texto: T6007065
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