Ruidosa cova

É o estrondo que me aproxima da angústia palpitante do real. Quando silente, a calmaria preenche de sossego minhas entranhas outrora em pleno caos. Mas... esse estrondo... esse burburinho que toma toda ambientação... essa balbúrdia incessante que prescreve o receituário do meu humor... A realidade seca passa pela garganta e, impiedosa, geme a uníssona melodia da verdade.

É bem notória a verdade no discurso que se repete: sento, inquieta, procurando sossego, cavando ironicamente uma cova de tranquilidade e silêncio, desesperadamente buscando por uma escuridão aconchegante e surda. Cavo uma cova sem fim. Cavo uma cova imersa em verdade: não há sossego a ser encontrado, não há serenidade e conforto para uma alma inquieta. Um âmago sedento por calmaria é um âmago afundado em desconforto. Certamente eu sou a mais hedionda generalização do desconforto, Augusto já disse. E procuro, por vias tortas, acalmar meu caos no silêncio do externo – encontro pessoas, encontro animais, encontro mecanização. E tudo rui, tudo ensurdece, tudo é uma só coisa que não para e não cede.