Homem do Norte

O sol e sua luz forte, voltada para os rostos, deixando marcas vermelhas e sede nos poços. Queimando o sangue das flores, inaugurando dores nos braços, fatigando a verdura dos pastos, mirrando a canção em meio ao abraço.

O sol se banhando na fonte, até o cair da noite. Seca-a lentamente e volta na manhã; e a fonte já cansada, já quase adormecendo,

pinga em lágrimas nos corpos.

A fome deitada no chão, apertando ventres, mastigando as mulheres, numa infinda digestão. Terra sedenta, empoeirada e rachada, homens de vento, homens de estrada, órfãos do tempo, da chuva, vestindo suor nos dias e noites enluaradas.

Cactos mirrados, voltados para o poente, de costas castigadas pelo nascente; impiedoso, cada vez mais forte, mais árduo, triste, duramente, avançando rumo ao alto, à secura e dormência.

O sol e sua luz forte; os matos e sua morte; os homens e suas histórias; seus braços e suas mulheres; seus filhos que eram fortes.

O sol e sua viagem infinita, sem tréguas, dentro do Norte.

Takinho
Enviado por Takinho em 27/03/2017
Reeditado em 21/08/2020
Código do texto: T5953206
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