INFINITAMENTE MORTAL

o que leva na ponta aquilo que está morto

e busca um outro fim

e depila o que se reveste de escamas e gracejos

em pelos e apelos que não nascem paralelamente à toa

se rasteja não voa

num navio num barco numa canoa

no mar no rio na lagoa

perde o encanto

o que leva na ponta aquilo que está morto

e provoca um outro fim

e tripudia o que trepida

o que é escorregadio

marcando novos e últimos momentos que deslizam

não afunda não boia e não toca a superfície

mas numa profundidade quase sombria se reserva

em meio à fumaça de erva

que calada observa

e repudia

o que leva na ponta aquilo que está morto

e inicia um outro fim

sem unanimidade plausível

num céu sem sol

já não se distingue nem a isca nem o anzol

e o que fisga é o que finge

é o que faz ranger os dentes

já não se distingue a raiz da semente

não é o que restringe é o que move as sereias

já não se distingue o sangue da veia

o desjejum da última ceia

o que leva na ponta aquilo que está morto

mata

mas também morre de novo

Allon Clamp
Enviado por Allon Clamp em 25/03/2017
Código do texto: T5951488
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