Felicidade... Coisas simples da vida

Ui, que tempo que faz lá fora, não me apetecia sair de casa. Lá fora chove copiosamente, e apesar de se festejar o entrudo, da minha janela vejo a rua, e havia pouca gente ou nenhuma. Só mesmo por necessidade, ou os foliões poriam assim com o tempo agreste os pés fora de casa, uns para colmatar a falta de alguma coisa, os outros para sua felicidade e divertimento. Eu, por bem que não quisesse sair, pertencia aos das necessidades, pois precisava de pão para “matar” a insaciedade de uma boa e quentinha meia de leite, acompanhada de um molete quente com manteiga.

Vesti o kispo, calcei as botas, guarda-chuva na mão, carteira a tiracolo e ala que se faz tarde. Abri a porta de casa, e saltei para o solo encharcado de água da chuva. Aberto o guarda-chuva, uma forte rajada de vento, ao contrário o virou, e a força foi tanta que as varetas quebrou. Como de nada me valia, logo ali lhe fiz o “funeral” deixando-o no contentor do lixo. Continuei o meu caminho, tentando abrigar-me como podia e o tempo agreste que fazia me deixava.

A chuva era tanta, que tudo molhava, o vento á “festa” ajudava e eu não tinha maneira de lhes fugir. E como diz o ditado “ Se não os podes vencer, junta-te a eles” , tão depressa o pensei como o fiz.

Lembrei-me da criança que fui, e que continua a viver em mim. E a lembrança disso fez-me sentir uma saudade enorme, de chapinhar nas poças da água da chuva. Invadida pela saudade e pela loucura talvez, desatei a chapinhar em todas as poças que encontrei. Senti a água fria, invadir-me os pés, sensação louca mesmo de costume de criança. Sobre mim, senti olhares, de um ou outro transeunte que passava. Não dei valor, continuei, mas um arrepio de frio gélido, percorreu-me a espinha, e eu pensei “ vou adoecer”, mas que interessa isso, quando a vontade de ser feliz é mais forte do que o medo de ficar doente. Tudo, valia a pena, pelo que sentia. Por isso, desatei a correr pela alameda rodeada de árvores, que agora estavam nuas e tristes e “batizei” com os meus pés todas as poças e valetas com água que encontrei. Estava encharcada até aos ossos. Os meus cabelos pareciam pingentes de gelo, a degelar. Que loucura, mulher já feita, mais parecia uma criança, ou pior, sei lá uma louca varrida. Parei, olhei-me na montra que estava à minha frente, e desatei a rir á gargalhada. Gargalhadas sonoras, que ecoaram pela alameda inteira, e os poucos transeuntes que por ali estavam, e os que vieram à janela, olhavam-me num olhar crítico e julgador. Não quis saber, nem valorizei, pois isso interferiria com a felicidade que eu sentia, e eu não pretendia de forma alguma perdê-la ou deixá-la fugir. Decerto, eles não viviam, nem sentiam sensações assim. Entrei na padaria, onde fui alvo de olhares e risos, pedi o pão, e dirigi-me para casa. Quando entrei na porta do meu prédio, apesar do meu estado, era a mulher/criança mais feliz do mundo. Agora, só me faltava saborear uma bela meia de leite, bem quentinha e o pãozinho quente com a manteiga. E o meu dia não poderia ter sido melhor e mais feliz. Coisas simples da vida, que me trazem uma felicidade enorme, que me enche a alma e alegra o coração.

E antes de me deitar, só teria que agradecer a Deus, por tudo que me oferece para minha felicidade… Simples assim.

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 24/03/2017
Reeditado em 24/03/2017
Código do texto: T5950651
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