O berrante cadencia o passo. O boi  faz a estrada.
Ê boi,  ê boi... ê boi bom   cara pintada.
Ê boi, ê boi... Ê boi bom, pega a  estrada.
Bôooi...


A boiada avança rumo ao curral da ferrovia. Lança pedras com os cascos  na calçada, e segue apressada para a morte — sorte de boi. Boi-carreiro trabalha feito escravo para o patrão, e quando fica cansado de trabalhar,  vai para o corte. Pesado na balança. Cada quilo... E àquilo, ainda se diz que é caro. Não raro, também se reclama de preço do ovo da galinha. Vá pôr um ovo! A galinha põe dezenas de ovos, e em ganha o milho, e o abraço apertado do galo... O galo nica, beija e bica a cabeça da galinha. Isso é que é carinho! Depois ela vai ao ninho, botar ovo pra chocar. Cria a pintainhada e a defende do gavião. Medroso, o galo se esconde sob as asas da galinha, como muitos maridos. Até Adão se escondeu: ‘ A mulher que me destes, deu-me a comer o fruto proibido... ’
O boi é bom. O homem é mau... Cara-de-pau,  põe careta no boi da cara preta e canta toada de ninar, que mais assusta a criançada do que faz dormir. Durma com um barulho desse:  ‘O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido, e a rosa despedaçada.’ Isso é educação que se dê aos filhos?  Rosa despedaçada... Rosa vermelha cor de sangue, em pedaços. pra leãozinho é uma boa toada.
***

Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...