Silêncio

Chegou o entardecer, veio a noite. Chegou de mansinho, e deixou-se ficar. Tornou-se longa e aborrecida, e por bem que eu quisesse dormir, não havia maneira de cerrar os olhos e partir a caminho do mundo dos sonhos. Meus olhos teimavam em se manterem abertos, e eu acabei por não querer dormir. Peguei num livro, que já havia lido, mas depressa o pousei de novo na prateleira do móvel da sala. Estava agitada, precisava de algo que me acalmasse. O dia tinha sido cinzento, e em cada momento tinha partido o meu alento. Liguei a aparelhagem, e pus o meu CD preferido para que a calma me envolvesse, e eu conseguisse repousar e quem sabe acabar por adormecer. Mas a aparelhagem, decidiu frustrar meu desejo, recusando-se a tocar a música que eu pretendia ouvir. A noite, havia chegado de mansinho, longa e aborrecida, mas trazia consigo a matreirice de não me dar o sossego que eu pretendia ter. Sentei-me no sofá já velhinho, e peguei no último livro que tinha lido de James Van Praagh, “Os caminhos da Alma”, talvez a leitura me desse a calma que eu necessitava e me levasse a repousar. Mas também ansiava ler outra vez as palavras de consolo lá escritas, e de compreender melhor a complexidade da minha alma, e assim poder viver a minha vida de acordo com o destino que para ela foi traçado…Enquanto eu tinha em mãos “ Os caminhos da alma” para ler, reparei, que já a madrugada ia alta, e o silêncio abundava. O silêncio é um alívio para mim, é uma tentação senti-lo. É um amor visceral que sinto pelo silêncio. Não sei se sou louca ao dizer isto, mas gostaria que a minha vida inteira pudesse ser assim, feita de silêncios. Amo o silêncio. Continuei a leitura que acabou por me acalmar a alma, e quando dei conta já havia amanhecido. A luz do dia, espreitou pela fresta da persiana curiosa, e o corpo percebeu que era hora de se levantar e olhar a vida lá fora através da vidraça da janela.

Espreguicei-me ligeiramente, pousei o livro, lido e relido e agradeci ao silêncio pela madrugada que tinha sido só nossa. Sustei a respiração e preparei-me para o novo dia que havia chegado. Mas antes de sair sentei-me um pouco no velho sofá, encostei-me e não dei conta de mais nada.

Caí no sono profundamente, e foi então que parti para a terra dos sonhos. E quando voltei a mim já tinha caído de novo o entardecer, e a noite em breve chegaria, e talvez eu voltasse a não querer dormir, e o silêncio voltasse a ser a minha companhia, durante a longa e fria madrugada…

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 21/01/2017
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