Uma alma em decomposição
 
"Um líquido grosso, incandescente, incessante, insípido e inodoro cai como cachoeiras eternas pelos abismos de suas almas. Percebem, saindo dos orifícios de seus rostos, lastros lamuriosos vermelhos como o sangue que-os-quer deixar! São os venenos mais letais das bestas mais ferozes que laceram o que não enxergam... mas sentem - seus relógios oratórios - destruídos após anos de devoção; em cânticos demoníacos, em corais satíricos, sujos, secos, cegos e sombrios sem o menor desafio do remorso, da pena, do arrependimento ou da tristeza, enfiam a flecha roubada do cupido decapitado nos corações daqueles que caíram da escada do Paraíso por suicidarem seus juízos em busca dos amores fatais. Diante de tanta dolência prescrita da lamuriosa existência de não saber o porvir, vão vivendo de um passado que só possuiu espelhos quebrados e de um presente ainda em reflexão, porém, se mostra com tantas imagens repetidas, acumuladas e ressentidas, não deixadas para trás; partes do passado da vida que deveriam ter ficado em suas terras natais, mas que trouxeram como a desgraça das possessões demoníacas... são como as ilustrações de Blake, que da ficção ilustra bem a realidade; ou de Goya, comendo a eternidade das horas... Sim! Sim! Só lhes restam o futuro e um devir mutável, onde suas existências não dependam das crenças, tampouco das falsas enganações humanas – De toda Tragédia Humana sempre a mais grave foi aquela que começou com pregações.  
Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 16/01/2017
Reeditado em 16/01/2017
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