A INQUILINA SRª. TRISTEZA

Pela janela vejo o pisar manso, vem chegando a Senhora Tristeza, bate à porta e quer entrar. Cara Senhora Tristeza, sei que a muito não lhe vejo e sei que é do teu desejo por esta porta se adentrar. Mas não me culpe, leve a mal ou se desdenhe, a casa já está cheia, não posso lhe acomodar. Ela responde com voz terna e bem baixinha, eu sou simples, sem luxo, eu só quero um cantinho a que eu possa me alojar e fique certa de que eu não vou lhe incomodar. Retruco a ela, digo que não é bem vinda e que na minha humilde casa, para ela, nunca há de ter lugar. Fecho a porta e entro a casa, mas eis que fico preocupada, donde está a Senhora agora e onde irá repousar?. Será que fui grossa, egoísta e mesquinha em recusar tal companhia, que de tão bom grado veio a se apresentar. Não me arrependo, sei que foi a escolha certa, não vou mais lamuriar. Lá fora chove, a Senhora Tristeza fica espiando do portão, e eu espiando de cá. Desconcertada, por compaixão, dou-lhe um grito da janela, digo a ela pra voltar. Abro a porta e ela entra, logo posto que se assenta, deixo claro, não vá se demorar. Passado o mal tempo, Senhora Tristeza, quando o sol se abrir, peço que procure outro lugar a ficar. Ela se faz de entendida, jura não abusar, e diz que irá embora sem se tardar. Inocente eu acredito, a boa pessoa que sou, por compaixão permitir um desatino desses, abrir a porta para tristeza. Agora passados dias e ela não quer me deixar. Digo que não é bem vinda, que a estadia por muito se demora e que é hora dela pegar seu rumo e se afastar. Mas a Senhora Tristeza se faz de surda, finge não me escutar, diz que não precisa ser bem vinda, ela só quer mesmo é ficar. Ronda a casa o dia inteiro, onde vou ela vai atrás, já estou pensando em me mudar. Dividir a casa com ela tem me custado por demais. Meu coração anda pesado, minha alma chorosa, tudo por conta de uma gentileza tosca e infantil em acolher à minha morada uma inquilina estranha, mentirosa e ardorosa, que agora já instalada quer a todo custo aqui continuar. A Senhora Esperança, minha fiel escudeira, melhor companheira que já tive, resolve arrumar as malas sem ao menos me comunicar. Quando vejo, um bilhete à mesa a dizer: “Minha cara amiga, desculpe minha ingratidão, faço muito gosto da sua companhia, mas desde que a Senhora Tristeza chegou esta casa anda escura, a a Senhora Alegria foi-se embora, não suportou dividir com ela este lugar, e eu já me sentindo acuada, não vejo outra opção a ter que também lhe deixar. Sei que és muito bondosa, mas confesso, minha querida, não suporto mais aqui ficar. Não sei como foi tão boba, abrira a porta à tristeza, tenho a leve intuição que ela já se aconchegou, vai ser difícil convencera a lhe deixar. Te desejo boa sorte. Fica aqui o meu adeus. Ass: Senhora Esperança." A Senhora Alegria foi-se embora, a Esperança foi também. Nenhuma delas quer voltar. Recusam-se a dividir a casa e minha alma com a Senhora Tristeza. O que posso fazer, depois que abri a porta, se adentrou por essa veia, e jura, agora, nunca me abandonar. Ficou ela e a Saudade. Estas se dão muito bem, adoram jogar prosa fora, passear de mãos dadas, acho até que vão se casar. Quanto a mim, temo as companhias, não faço gosto de tanta ousadia, impetuosa a todo custo quer ficar. Então fica Senhora Tristeza, vai-se embora quanto achar que deves ir. Só não te demore muito minha cara, pois logo tão, não haverá casa para se habitar.

Caroline Campos
Enviado por Caroline Campos em 15/01/2017
Código do texto: T5883050
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