NOTAS DE UM CORAÇÃO.

Ah! Coração...Por que não te aquietas? Por que vives a enganar-me? Dissera-me, certa vez, o doutor, que tua função seria apenas, bombear vida em minhas veias...

Desde quando, insensato coração, tens roubado de mim, o direito a decisão? Desde quando coração, assumiste tamanha autonomia? Quem pensas que és, afinal? Não passas de um músculo teimoso a bater-me no peito ora, rápido feito flecha, ora, arrastado feito sina.

Por que fizeram-te símbolo do Amor? Amor é sentimento bom e nobre, é raro, é joia que reluz no olhar. E, tu, pobre coração...nada mais és que um músculo teimoso a batucar-me no peito.

De onde vem tamanha desfaçatez a chicotear-me a alma? Por que não segues calado, a cumprir tua missão? Quando entenderás, oh, nobre coração, que quando apanhas é em mim que a dor se faz? Por que não bates em vez de apanhar?

Mas o que hei de fazer se é no vermelho de tua cor que escondo calada o meu amor? O que hei de fazer se é no ritmo do teu bater que ainda mora o meu querer? E se um dia tu te fores, meu pobre nobre coração, contigo levarás meu triste viver. Pois todo o vermelho em minhas veias, coração, empalidecerá de tristeza e solidão.

Elenice Bastos.