EU SANGRO E NÃO É DE HOJE... (um poema perdido na garrafa do tempo)

eu sangro e não é de hoje

já foram tantos socos

mas nenhum me acertou o queixo

ou me pôs na lona

sinto-me vazio

e esse rio é meu exílio

eu não sou daqui

e você não está mais em mim

a falta transborda

e o teu beijo

não cura nem envenena

tuas pegadas na areia

são miragens alucinatórias

e agora eu digo não

meu cavalo selvagem

arrebentou a rédea

e deu coice às cegas

- cavalo ferido fere muito mais -

minha memória masturba a saudade

que cospe um cheiro morno

de amor mal passado

e o desejo ejaculado gera fantasias

que inventam carnavais

sem época ou lamento

meu bloco vai passar desfalcado

sambo com o pé esfolado

invento alegrias momentâneas

e recebo o aplauso pela sobrevivência

eu sangro e não é de hoje...

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 21/10/2017
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