Estou doente.
Tosse constante.
Veias fragilizadas.
Varizes que explodem.
Dores de cabeça alucinantes.

Estou doente.
A poesia se faz poente.
E, no rubror da tarde
arde até apagar-se 
definitivamente.

Resistir.
Medicar-se.
Sobreviver.
Cada vez mais difícil e
espinhoso.

Há no alto da montanha
uma razão a pairar
de asas abertas.
Há no fundo dos abismos,
outra razão
para cerrar os punhos.

Batalhas, guerras e duelos.
A fragilidade.
A facticidade.
o tempo implacável.
A envelhecer ossos e tecidos.

A memória questionável.
A fenecer sobre os mortos e vencidos.

Registros.
Sinistros
Transcritos.

Estou doente.
As rimas teimam em ser febris.
O lirismo pueril 
brinca com os gatos...
E lhes dá afetos incomensuráveis.

Compartilhamos confidências.
Escritos.
Bilhetes sem destinatários.
Desabafos indizíveis.

Confissões sufocadas.
Palavras impressas no silêncio.
E, a lágrima seca do
mandacaru da alma
A matar a sede dos peregrinos.
Regar a saudade dos beduínos.

Percorrer o destino.
Revisitar os flashes
apagados diante das luzes
insistentes de alguma lucidez.

Estou doente.
Fraca e cansada.
Ainda assim,
escrevo, escrevo e
escrevo...
Só me sinto viva, 
 se posso sentir e escrever...

Só sentir, não basta.
Só escrever, não basta.
Há de sobreviver às cicatrizes,
às atrocidades
e recolher os espólios
que sobraram
do holocausto gradual
do medo.

Viver é vencer 
o medo nosso de cada dia.





 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/01/2017
Código do texto: T5887996
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