A Noite é cega

A Noite é cega e muda quando não se conhece,

Sua órbita de abismos, seu tímpano de prata,

Cativos de uma música, de um perfume, de um mistério

com que o sórdido truque da vida nos amarra.

Falamos de uma velha maceração de ruínas,

com júbilos de festa, com vôos noturnos.

Ah! o milenar estrondo do vento na serrania,

quando abre suas entranhas o braço do ciclone !

Ah! o fúnebre grito dos muros do mundo,

quando sobre seu peso geme a imensidão;

E em desolado alento em um minuto absorve

os raios do sol, a luz da eternidade.

A Noite é o ventre da vida e da morte,

nela vive absorta a voz da esperança,

nela é gerada a passageira sorte;

E cada dia que passa é um enigma,

que entrega ao dia que vem os signos da aliança.