Uma Voz

Voz, uma voz sussurrante

sobre um tempo remoto

e esquecido de dor.

Outro mundo e outra hora,

outra música, outro voto

desenganado de amor.

Oh! a região do ouvido

grande país da morte,

o país de outro som,

e o canto como trazido,

pelo ar, que calado, inerte,

com o temor de outra canção.

Parte da alma já morta,

frio de tumba escura,

e a voz, sempre a voz.

Mudo o espaço, deserta

por todas partes a altura,

e o ar, longe, veloz.

Parte da alma radiosa

torrente que é só um fio

perfume de ar e de flor.

E o silêncio que se faz

sopro extinto nos séculos

morrer ouvindo o doce canto.

Por essa voz sussurrante

fico mudo, calado

Ao pressentir que algo ficou

A pairar sobre a imensidão,

suspiro pelo o esquecido,

Pois próximo está o adeus.