AO SENHOR DOS AFLITOS

«Nos trilhos da Ascensão»

Pelos trilhos da memória

Outros trilhos se processam,

Numa continuada história,

Fazendo a existência inglória

Aos humanos que tropeçam.

Não há vidas milagrosas

Há apenas vidas comuns,

Mas há sensações dolorosas

E chagas sempre custosas

De sendas ruins para alguns.

Seja inverno, seja verão,

A vida é um monte a subir

E há pedras sim, pedras não,

Nesta perene Ascensão

Com risco e perigo de cair.

Todas as sendas humanas

Têm custos, têm gritos,

E de semanas a semanas

Há fraquezas soberanas

Com´ as do Senhor dos Aflitos.

Aos pés a Senhora das Dores,

Não é uma, mas são três

Senhoras do Monte, amores

Que são da vida penhores

Para alguns milagres, talvez.

Dura se faz a procissão

Num dolorido horizonte

Mas há promessas e oração,

Flores e terços na mão,

Olhando as Senhoras do Monte.

Pela encosta vai o andor

E o Cristo pregado na cruz,

Há cantos e rezas, suor,

Há esperança, fé e amor

E dentro d´ alma uma luz.

Cada romeiro só pede

O que traz na sua intenção

Pra si e pro mundo, intercede

Que acabe a fome e a sede

E para os pecados perdão.

No alto as Senhoras esperam,

Lapinha, do Monte e da Guia,

Pés descalços desesperam,

Mas os corações temperam

Piedade, canto e alegria.

Senhor dos Aflitos, eu creio

Que chegue a Vós quem é crente

E sonho que, por este meio,

Acabe de vez todo o receio

De permanecer penitente!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 21/05/2017
Reeditado em 21/05/2017
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