SEM DESTINATÁRIO

era amor de fim do dia

amor de final de tarde

de seis horas, um pouco mais

com clarões de por do sol

tons vermelhos de arrebol

luzes de aurora boreal

era um amor sem mistério

sem palavras, sem andanças

um amor de quase noite

sem saudades, sem lembranças

amor que não fere mais

não alegra, nem atiça

amor sempre tão igual

amor de dar preguiça

sem paixão, desanimado

de tão sereno, angelical

um amor de quase noite

temendo a escuridão

um céu sem lua cheia

sem ondas molhando a areia

um amor sem metas, metades

amor de contemplação

era assim quase mentira

um amor de pedacinhos

amor de quase- nada

juntado em retalhinhos

um monte de tiras em cores

trapinhos do que já fora

nada lembrando o namoro

o fogo, tempero, amores

amor que se foi com o tempo

(e o tempo não volta atrás)

e o amor se foi de tardinha

como um barquinho solto

no cais