Ora (digo-lhes) não consigo mais ouvir estrelas ou Soneto subvertido
Vicência Jaguaribe
Tochas elétricas clareiam a escuridão da cidade
E nublam os círios que os céus respingam.
Não mais guarda a noite sortilégios e mistérios
A banalidade do encoberto empana-lhe a sedução.
Um ladrão assalta em uma esquina próxima.
Fagulhas denunciam drogas na calçada em frente.
Impede-nos a modernidade demoníaca
De abrir a janela e conversar com as estrelas.
O deslocamento barulhoso dos veículos
O histerismo das buzinas e das sirenes
Os decibéis alucinados dos carros de som e das casas de show.
A noite, insone, não mais acolhe bardos e menestréis.
O amante das estrelas ainda é um ridículo amante tresloucado.
Não por conversar com elas.
Mas por desafiar o perigo da noite,
Agora sem estrelas.