Não Quero! II

Me deixa!

Não quero ser amada, mordiscada hoje

Me deixa

Não quero ser lambida, medida, dosada

Se sou boa ou ruim

Bonita ou feia

Inteligente, das boas ou das bobas

Não quero o olhar que julga

A boca calada que me come

Pelos ouvidos e olhos

Enchi-me

Da fama, do unguento

Da mirra...do aroma e do alimento do luxo

Da cara lavada, da hipócrita

Da entediada, da esfumaçada

Da encardida do cinismo

Da minha enojada

Não quero! que fiquem onde estão

Estou cheia de mim

Do outro, das ostras nas cascas

Em volta de mim

A lesma que gruda na soleira da porta

Para me ver

Não quero!

Guardei o regador

Que umedece meu ego

Quero é esturricá-lo

Estou pelas tampas!

Não quero!

Praticar o auto engano

Para receber o aplauso

Por ser mediana

Do bom e do belo

Do céu e dos deuses

Não quero

Sentir dó, compaixão, repudio a dor

Se o que irradia é o fedor

Da marmita vazia

O vazio da dispensa

Trabalhador sem trabalho

Pobreza

E a Minha de sentido

Que fabrica nos dias

Produz o auto-engano

Partilha auto-engano

Para nada

Sertão de dores

Estado de repouso

Hoje estou!

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 23/02/2017
Reeditado em 23/02/2017
Código do texto: T5922104
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