às vezes preciso refletir sobre o tempo

nunca estamos satisfeitos
com o presente. diabos,
e com o que estamos?
pois é, é verdade.
de norte a sul andamos com
saudades do passado,
até mesmo de um que não
vivemos. e ansiamos por um
futuro quase impossível.
adoecemos com sonhos
envenenados pela
esperança. o que passou foi
bom, e o que virá será melhor.
mas aquilo que está acontecendo
infelizmente é uma merda.

o que me faz lembrar de
um senhor num show de
rock que fui em minha
adolescência.
os jovens ao seu redor
pulavam e gritavam e suavam
e se sentiam vivos. mas ele
não. o homem de cabelos
grisalhos que batiam em seus
ombros, de bigode espesso,
alta estatura, e com uma
camisa de flanela que parecia
ter sido usada por Kurt Cobain,
estava parado, de braços cruzados,
olhando para todas aquelas
crianças. tanto as loucas do palco
quanto as que enchiam de vida
aquela arena. pois é isso o que somos
para os mais velhos, para os mais sábios.
somos crianças. e digo isso
em um bom sentido.
para eles nós sempre seremos
pequenos seres inocentes,
livres de todas as maldades
e violências.
e este homem, eu ainda penso, vivenciou
grandes eventos mundiais, assistiu a
shows de grandes bandas,
ouviu os mais diversos sons
até aquele dia. poderia estar
pensando no quão barulhenta
aquela banda era, do mesmo jeito
que seus pais faziam com ele
e do mesmo jeito que nós faremos.
as lágrimas que se misturavam
com o suor molhavam nossas
camisetas, cobriam nossas
tatuagens, manchavam nossas
maquiagens e acalmavam nossos
espíritos. era como se fosse
a fonte da juventude.
talvez aquele homem pensou
nessa mesma coisa.

vou assistir essa banda que meu
filho, meu sobrinho, meu neto,
tanto gosta.

ou

vou assistir essa banda que nossos
jovens tanto gostam.

ou talvez ele tivesse sido
arrastado contra a própria
vontade, pois de fato tivesse
uma criança à sua guarda,
menor de idade, precisando de
companhia para aquele vento.
e em sua cabeça a única frase
que rodeava no meio de tanta
distorção forçada seria:
mas que merda.

e é assim que penso sobre o tempo.
Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 22/03/2017
Código do texto: T5948876
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