Paz

Eu olho para cima e, recuando,

vejo a luz da lâmpada através

de uma leve torrente... Eu percebo

minha pupila dilatando, o prazer

no vício; como uma tela, chuviscando

com continuidade, vejo se apresentarem

esses pequenos reflexos, ricos reflexos,

tão poucos em tantas pequenas gotas,

saciando como se alimentassem.

Todos eles eu busco.

Vejo um quadro. Já não há profundidade.

Meus olhos focam a exuberante luminosidade.

Uma vinheta escura toma minha visão,

uma boa parte se enerva, e desapreço,

e só dura o facho.

Fecho os olhos, e abrindo

recebo o golpe da luz em minha retina,

os olhos recuam acoados

e eu vou esmaecendo,

e o ambiente vai-se esmaecendo também.

Sumo completamente, e somem juntas

essas perturbações, eu me livro

de todos que se saciam

do tormento;

e do tormento eu vou dormente

adormecendo; eu fico sempre

atrás da água, tão mísera,

desta tela d'água, descendo;

como um louco eu vou crescendo

observando as gotas claras, em vão

dispenso a vida afora.

João Pedro Garcia Castro
Enviado por João Pedro Garcia Castro em 12/10/2017
Reeditado em 30/12/2017
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