A Carteira

CARTEIRA
Miguel Carqueija


Sou carteira e vos digo;
eu amo este meu serviço!
Aqui tens um ombro amigo
mesmo que eu seja um caniço!

Ando pra lá e pra cá,
levo carta registrada,
jornal, revista e mangá
e a foto da sua amada!

Se chove na região
fico bem contrariada,
pois havendo inundação
meto o pé na enxurrada!

Pois faça chuva ou calor
trabalho com o coração,
a carteira com amor
cumprirá sua missão!


E não digam que cachorro
aprecia nos morder;
mesmo de um mastim não corro,
pois só querem me lamber!

Por que é que os animais
nos tratam até melhor
que o fazem nossos iguais,
e isto eu já sei de cor?

E amo o meu uniforme,
amarelo e brasileiro;
e é com orgulho enorme
que ando nele o dia inteiro.

Porém falando em andar
tem que ter disposição;
eu posso até me cansar
mas se ainda falta chão






eu irei até o fim,
cumprindo com meu dever:
eu sou guerreira enfim,
e labuto sem temer!

Carta traz felicidade,
e contas para pagar;
traz mensagens de saudade
ou te manda passear!

E se entrego um telegrama
pode ser coisa ruim;
quando deito em minha cama
fico dizendo pra mim:

Thaís, teu dever cumpriste,
fizeste alguém se alegrar;
não deves te sentir triste
por más noticias portar!

Tem tudo em correspondência,
é teu dever entregar;
e não podes ter ciência
se a carta vai magoar!

Pensa só no que é legal:
— Você foi selecionada!
— Mil beijos, feliz Natal!
— Você é a minha amada!

Ajudo a funcionar
as coisas no meu país:
podem comigo contar,
podem contar com a Thaís!

Até pode humilde ser
esta minha profissão:
mas eu gosto de exercer,
andar pelo imenso chão,

palmilhar sem me perder
em minha jurisdição,
e trabalhar com prazer
tendo leve o coração!

Eu posso até me cansar...
e às vezes me contrariar...
mas amo esta vida levar!





TEXTO DE LEDA MARA
Carta ao Passado

   
Ilustríssimo Senhor



Em razão dos avanços tecnológicos, devia eu redigir esta, nos teclados de meu computador,valendo-me dos recursos modernos disponíveis,que muito admiro.
Prefiro escrever-te à caneta-tinteiro, tua velha conhecida, que em teu tempo fora responsável pelas mais belas cartas de amor,ou mesmo familiares, carregadas de sentimentalismo do escritor remetente, e recebida com expectativa  pelo destinatário.
Saiba que lamento a perda de tais ostumes. Áureos tempos de singeleza, da elegância das caligrafias bem feitas,das finezas das palavras contidas,que por si só já muito dizia de seu autor.

Velho camarada, o mundo correu depressa demais, tudo expresso, urgente. As pessoas andam solitárias,remoendo-se em si mesmas solitárias,egocêntricas. Muitos  se esqueceram do que significa a empatia,e a importância do contato pessoal .Fato é que  o mundo não pode parar. É necessário mesmo as renovações, mas que ainda perpetue o saudosismo dos áureos tempos de singeleza ,como aqueles das cartas via Correios,da vizinhança solidária,das crianças brincando nas calçadas,hoje não mais possível em razão da violência ,do romantismo das serenatas.Feliz aquele que viveu essa emoção!
Perdemos de um lado, ganhamos de outro, é a Lei Modernidade!
O Homem inventa,avança,renova, mas penso que nada substituirá as lembranças das velhas cartas, mensageiras de alguns infortúnios, de declarações românticas ou de muitas boas novas!
Caro amigo Passado! Despeço-me aqui neste ponto, já que me encontro prestes a sucumbir nas teias da melancolia, não sem certo prazer em recordar-te, que muito bem me faz.

Com apreço:

Tempos Modernos
                                           

Leda Mara


retrato gentilmente cedido por Leda Mara



Leda Mara G. de Oliveira, nascida em Irati, estado do Paraná. Desde a adolescência,quando descobri o gosto pelas palavras,comecei a escrever alguns poemas, que infelizmente deixei se perder. Mas continuei colocando no papel minhas emoções, minhas aflições, agora com um pouco mais de cuidado e fui guardando. Não faz muito tempo que tomei a coragem de torná-los públicos, devido a certa insegurança, mas por fim criei uma Página no Facebook para postá-los e mais recentemente no Recanto das Letras, no qual me parece tive boa receptividade. E muito agradeço, pois me incentiva bastante.
Meu nível de escolaridade é segundo grau completo. Sonhei um dia com o Jornalismo e até me aventurei num Vestibular, mesmo sabendo que se passasse, não teria como freqüentar, por falta de recursos financeiros. Naquele tempo curso superior não era para todos, e meu modesto salário jamais daria parta pagar o curso.
Venho de uma família humilde que soube desde cedo o valor do trabalho, do respeito ao próximo, valores que meus pais me passaram e que prezo muito.
Sou mãe-pai de família, dona de casa, levo uma vida bem simples na minha pequena cidade, aliás, um verdadeiro celeiro de inspirações.
Gosto de artes de uma forma geral, em especial as Artes Plásticas e a Música, sempre presente em minha vida desde a infância, pois meu pai era músico e cresci ouvindo solo de seu clarinete!
Sou simples, sem grandes pretensões, vivo com pouco e um dia de cada vez. E amo escrever, necessito disso, faz parte de mim!
 
 

 

garota sorrindo, garota meditando: imagens pixabay
carteira: imagem google


Hoje os mais conservadores
Sentem falta dos carteiros,
Que ainda são portadores
De o que vem pelos correios...

Hoje a tecnologia avançada
Tira um pouco o romantismo
E quase não há mais cartas...
Também sinto a falta disso.

Mas temos que acompanhar
O progresso e aprender,
E assim nos adaptar...
Sem aquele mesmo prazer...

De escrever de próprio punho
Como faziam nossos pais,
Aquele era um outro mundo!
Como aquele, nunca mais...


(interação de Isabelle Mara)