Tributo à Moça Tecelã de Marina Colasanti

Acordava ainda no escuro
E logo se sentava ao tear
Linha alva, para começar
O inacabado tapete claro
 
No jardim pétalas se via
Pontos longos rebordava
A chuva a cumprimentava
Tecer era tudo que sabia
 
Nada lhe faltava
Ao entremear a lã
A moça tecelã
Dia e noite sonhava
 
Desejando um marido
O teceu do chapéu ao sapato
Um corpo aprumado
Pelo tear reproduzido
 
Descobriu o poder do tear
E o que ele poderia lhe dar
Nova casa começou a tecer
O marido ordenou novo querer
 
Sem tempo de arrematar o dia
Tecia os caprichos e entristecia
Tecer era tudo que queria
Tecer era tudo que fazia
 
Enquanto o marido dormia
Desmanchava o que tecia
Ele espantado em volta olhou
E seu corpo se desmanchou
 
Como se ela ouvisse o sol chegar
Escolheu linha para novo sonhar
Passou-a entre os fios devagar
Repetindo seu delicado tear
 

Kennedy Pimenta 🌶 

Este poema é uma homengem ao conto de Marina Colassanti (A Moça Tecelã) Disponível em: Acessado em: 17 março de 2017.