Palimpsesto para a Engraçadinha do Buritis

Há quanto tempo não lhe visito

minha peça rara?

Meus dedos sentiram o tempo passar

e me propuseram a ti, retornar.

Os tempos são outros

os desejos, mais amenos

silenciosos.

Por vezes, distantes do nós.

Dividir um amor com você

por você

Ensinou-me tanto!

Mas também me apavora.

Jamais imaginaria que sofreria

às duas horas da tarde

naquela pracinha do Calafate.

Meu afeto se despedaçou.

Ver-te ir embora

significavas deixar também

meu peito descompassado

pensando: “nunca mais lerei Hilda Hilst, cara!”

E como é engraçado, não?

Passar uma semana distantes

fez eu me sentir

numa espécie de mundo incolorido.

Como podes a branquinha do Buritis

colorir do meu afeto

à minha fala?

Completamente delirante...

Apeguei-me do cantinho esquerdo da tua cama

ao teu banheiro quando utilizamos juntas.

O perímetro de teu banheiro mais quarto

resultam pra mim em "querer" de lar.

Teu peito siliconado e empinado

me aconchegam ao alívio de sentir

como se pela primeira vez

conseguisse amar não apenas um corpo. (Há muito mais por trás desse peito...)

Ah, Pripri

se tu soubesses como machuca

sentir-nos distantes por “momentos”

talvez me permitirias morar no fundo do teu fundinho.

O título desse poema, “palimpsesto”

significas texto primitivo,

raspado.

Que deu lugar a outro.

Nosso amar, para mim

tem sentido de palimpsesto.

Aí você me pergunta: Alessandra (porque me chamas tanto de Alê essa semana)

Que diabo de sentido é esse?

E eu digo: “Calma, Pripri!”

mas será que percebes também

quando estamos distantes?

Quando a fala não fala?

Confesso aqui que sem(ti)

tão sem graça!

Minha boca não fala

mas a minha escrita, explana!

Talvez seja bobeirinha adulta

ou falta de sentar com você

e falar sobre tudo ou nada.

Ou gastar horas fazendo um bobo nó(s).

Pego-me sempre pensando

no acaso que foi essa junção

a filha do pastor, criatura em potência

com a filha do autoritarista, sujeito em construção.

Um casal bonito

mesclado tipo chá com cajuzinho

como misturada gourmet, nada a ver!

Mas que tem tanto a tecer.

Teu palimpsesto escrachado

fez o meu palimpsesto calado

querer se tornar

em um palimpsesto perdidamente apaixonado. (Eu ainda sinto um frio na barriga quando te vejo chegar)

Branquinha engraçadinha do Buritis

será se me ajudas um dia a sonhar-te menos

em troca de retratar uma jovem em chamas

que ocupará o espaço ao lado da cama no acordar?

P.s. Baby, embora tenhamos dias e “d i a s”, para ti jamais será au revoir...

alesnav
Enviado por alesnav em 07/11/2020
Código do texto: T7105846
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