ELEGIA DE FIM DE ANO

Porque hoje é o último dia

De um ano que vai-se embora.

Já sinto uma grande agonia

Neste ser que pede e implora.

Se não bastasse o sofrimento

Que impõe dor e a alma chora.

Como suportar este tormento

Que invade a paz e a deflora?

O Ano foi-se e a esperança

Com o cavaleiro e sua espora.

Sofreu as perdas desta andança

De tanto açoite a qualquer hora.

Sofreu os percalços de uma lida

Em que a fé, quase evapora.

Mas que ganhou uma sobrevida

Vindo à galope, sem demora.

Este Novo Ano que vida nova

Vai trazendo e ao Velho implora:

Que finde logo já que se inova

O calendário a partir de agora.

O Novo Ano traz um novo verso

Poesia linda, minh ’alma decora.

Que traga ventos, exato inverso

Sopro de vida que não descora.

O rublo sangue que corre na veia

Me leva em sonhos, mundo afora.

E enrodilhado nesta bela teia

Sou poeta grego numa bel ágora.

O Ano passou, secam-se lágrimas

A felicidade, o meu sonho escora.

Buscarei da vida novos paradigmas

Pois o Velho Ano o tempo já devora.

Choro não pelo Velho estar nas últimas

Mas o medo do Brasil viver diáspora.