O PÁSSARO DA ESPERANÇA

«Ao coronel Rui Telo, caçador de perdizes»

Toda a Natureza exulta

Numa estrutura galante

E tem na sua face oculta

Um mistério inebriante.

Do seu habitat silente

Brotam pássaros e aves

E agitam em quem é crente

Suas variantes suaves.

Voam pássaros e augúrios,

Por mares e precipícios,

Há-os que são espúrios

E os que atraem auspícios.

Há também aves no céu,

Do alto têm vantagens,

Não gostam de fogaréu

E vestem lindas roupagens.

Há pássaros de tempestades,

De tragédias e lassitudes,

Os que não deixam saudades

Nem esperanças, nem virtudes.

Aqueles santos viventes

Com a sua veia canora

Fazem belos ambientes

Cantando a toda a hora.

Há pássaros de mil cores

Em tonalidades vistosas

Têm penas, como as flores,

Têm espinhos como as rosas.

Há o canário e o rouxinol,

Cantando com temperança

Mas, estimulado p´ lo sol,

Voa o “pássaro da esperança”.

Renasce co´ a primavera

Não se contenta de esmola

Enfrenta qualquer quimera

Como que seja uma escola.

É o gaio, é o verde-gaio,

O pássaro mais sabedor,

Cada impulso é um ensaio

E tem sentido de humor.

Na Natureza acontece

Haver filhotes no ninho

E só este gaio fornece

Todo o aconchego e carinho.

Armazena pelo Verão

P´ ra mais tarde ter de volta

E se lhe fazem maldição

Apronta-se para a revolta.

Gosta de horizontes abertos

Procurando a verde rama

Nunca voa em rumos certos

E dizem que tem má fama.

Não é fama, mas é um jeito

De ser tão inteligente,

Tira sempre bom proveito

De quem é fraco e indolente.

Seu alimento é visceral,

É variado e sem cota,

Mas a paixão natural

Tem o nome de bolota.

Faz reservas com cuidado

Cada local bem escolhido

Para nos dias de enfado

Não lhes perder o sentido.

Quando voa na campina

Vai alegre e folgazão

Com uma vida cristalina

Que faz inveja à criação.

E os verdes campos de Maio

Enfeitados de cerejais

Fazem a delícia do gaio

Que fica a piar por mais.

Nunca anda na gandaia,

Ao contrário da perdiz,

Vive sempre de atalaia

E faz sua gaia feliz.

Não haja dúvidas, não,

Deste aventureiro de Maio

Da esperteza – diz a tradição –

“Há que ser fino com´ o gaio”.

E por falar em fineza

O "verde-gaio" é primor

Faz alegria e beleza

Nos ranchos de folclore.

Ó gaio, que és mensageiro

De uma vida de harmonia,

O teu viver é verdadeiro

Nas franjas da pradaria.

Tu és o pássaro da esperança

De um azul-esverdeado

Fica sempre na lembrança

O teu destino organizado!

Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 19/05/2017
Reeditado em 20/05/2017
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