O MUDO

Aquele mudo, falava muito...

O problema é, que quando desandava a falar,

ninguém entendia nada! Mas via, via a sua agonia,

querendo explicar... Via a sua, articulação e seus

gestos, os quais até parecia um ator de mímica

enfeitando-se em seu emaranhado falar.

Os ouvintes em sua volta, pouco entendiam...

quase ninguém entendia, mas viam a sua

fala, falando. Aquele mudo, era um verdadeiro

tagarela, adorava falar... Falar com sua fala, falar

com sua, voz muda. Quando ele desandava a

falar, desembestava com tudo, até parecia o...

Usain Bolt as carreiras... Ninguém agüentava

mas, gargalhava e aplaudiam. Ele falava com o

tempo, com a rua, com seus sentimentos, falava

do farfalhar do vento do chilrear das aves,

falava da olhada a olho cru, falava d'aquele que

falava, d'aquele que não falava, falava d'aquele

que ouvia e d'aquele que não ouvia, falava da

menina que corria pelas poças d'água, falava do

menino que andava nu... Falava do dia, da noite...

Falava com os pássaros voando, e dos urubus

pretos, pelos céus vagando. Aquele mudo, falava

que falava e falando... Falava da seca, da chuva,

do norte e do sul, da cidade do sertão... Falava e

falava muito! Até ganhou um apelido de mudinho

falador. Aquele mudo, falava com todos e com tudo...

Entendendo ou não, aquele mudo... Falava com Deus!

E todo mundo, do mundo.

Antonio Montes

Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 13/11/2017
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