ERRANTE

ERRANTE

Errante

Por caminhos errantes

Ou seriam errados

Passa pelo amarelado

Que há pouco era arroxeado

Caminhos de ipês

Que pela brisa amena

Tapeteiam o chão colorindo-o

Na secura do tempo

A umidade dos olhos

Se exacerba e turva

À beleza incontida

Ronco de motores

Alarido de vozes

Anuviam o caminho

Desenhos de nuvens

Obscurecem um pouco o azul

E ligeiros cinzas dão mãos

Ao negro do asfalto

Um bem-te-vi

Benteviteia

Contra assovios de um gavião

Faminto e também errante

A busca de comida

Que escasseia

Assim como também falta

Àquele corpo deitado ao solo

Sujo e maltratado

Evaporando álcool

Aos poucos morrendo

De fome que toma forma

Em seu esparso corpo

Recoberto de frangalhos

Antes fossem frangos

Todos o veem

Ninguém o enxerga

A não ser meninos

Com suas mochilas deseducadas

Carregadas de sonhos e pesadelos

Quem sabe de livros

Que não leem

Não há fome de aprender

Apenas brincar de estudar

Mendigos de letras

E de calcular

Quem sabe no futuro

Encontrar-se-ão em marquises

Ou em manifestações desfuturadas

Quebrando tudo

Principalmente a cara

Numa vida despropositada

Sem ipês nas ruas

Sujas de desumanidade

Sem cor

Dominadas pela escuridão

Da decrepitude dos seres

De barro desfazendo-se

Em águas vermelhas

Em que centelhas e humanos

Terão entrado pelo cano

Enterrados num chão

Donde nunca deveriam

Ter sido erguidos

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 29/08/2017
Reeditado em 09/06/2019
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