VESTIDO DE NEGRO
 
Não sei o que é pior:
Ser melhor do que o idiota Racista,
Que me assiste na pista de dança
De uma boate com uma linda mulher branca;
Ou ser esse mesmo idiota,                                         
Que não tolera envolvimentos
Inter-raciais por uma causa purista?
Nessa vida tão confessada
De hipocrisia com sinônimos de verdade,
Devemos engolir seco
O racismo velado do dia a dia,
E beber litros do refresco
Que não mata a sede de um negro.
Me dão por Moreno, o eufemismo
Da grande Massa de herdeiros
Que lhes conferem o direito de
Se acharem politicamente corretos.
O moreno, é o novo preto.
Digo que sou cor, não raça, porque
As pessoas
não me enxergam através de Raio-X.
Coisas que me perturbam demais:
Querer exaltar o negro por negros
Que se destacaram. Porra de clichê de bosta!
As cotas nas faculdades me doem como
As chibatadas de um capataz, pelo desprezo
Em perceberem que a cultura histórica
Do negro tem um decréscimo de 300 anos;
Hoje, uns se vangloriam por uma ridícula
Porcentagem que há séculos já deveria existir,
E muitos outros demonizam essa “vantagem”.
As periferias, favelas, zona rural,
Ainda não se encaixam nesse país
Que Euclides percebeu que eram
Dois, depois de correr sertões.
Digo que sou cor, não raça negra,
Digo isso, pois é esse o meu pecado
Por ter nascido manchado de sangue maculado
No cordão umbilical da minha mãe branca.
O homem é o lobo do homem*,
Mas depois de milênios não deveria
Olhar para um pobre e enxergar somente estática;
Olhar para um homossexual e se perguntar:
“Como é que pode?!” E, ainda se perguntar:
- “Como essa negra é linda!”
Se eu sou ou você é diferente de mim, não sei...
O que sei é que, tal qual o leão, o golfinho,
O macaco ou um bebê que nasceu na Groenlândia
E quem mais que seja - Respiramos,
Vivemos...
Tocamos a vida em frente!
Fodam-se os que creem que o ser humano 
É feito por silk screen de duas cores!

Fodam-se aqueles que se ocupam
Da dinastia de quem tem opinião própria!

Fodam-se os que creem que rótulos
Definem o caráter das pessoas!

E um grande Foda-se! aos larápios escrotos
Com as mãos sujas da graxa da corrupção,

Que tanto lavaram, mas a graxa nunca saiu!
 
 
 
*Thomas Hobbes


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Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 20/08/2017
Reeditado em 14/04/2018
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